Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)
Como dizia uma mítica Maria José de Carvalho, nos lendários tempos da Escola de Arte Dramática do Dr. Alfredo Mesquita, “no teatro, inspiração é tudo!”. Ou como diríamos nós hoje em dia, “quase tudo”, porque fazer teatro está “pela hora da morte!”.
Esta empolgante montagem de Morte e Vida Severina (veja “serviço”), na Oficina Cultural Amácio Mazzaropi (onde funciona também a SP Escola de Teatro), no Brás, é uma inequívoca demonstração da criatividade e da inspiração plenas de que é senhor o diretor Moisés Miastkwosky, figura inexplicavelmente preterida pelos produtores, mas ,invariável e merecidamente ,premiada em festivais de teatro local e alhures. Os jovens de hoje já devem ter ouvido falar do poema (ou Auto de Natal), Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, um dos expoentes da safra literária poética do Nordeste brasileiro, que reinou no panorama cultural desde meados do século 20. João Cabral percorre os misteriosos caminhos onde a Morte precede a Vida Severina, aquela “que é a morte onde se morre de velhice aos trinta, de emboscada antes dos vinte, de fome um pouco por dia.”

Quando o TUCA , há 40 e poucos anos atrás, sob a inspirada direção de Silnei Siqueira e com as músicas de um Chico Buarque de Holanda jovenzinho e talentoso, transpondo os versos candentes do poeta, aconteceu aquele sucesso que explodiu com um prêmio internacional, o do Festival de Nancy, na França.
Agora, a majestosa montagem de Moisés sacode a severa solenidade de antes, nessa angustiante visão de um sertão infernal, povoado por velórios e suas cantantes carpideiras e por procissões medievalescas, criando impactantes imagens que remetem o espectador ao universo de um Fellini ou, melhor ainda, de um Pasolini mestre da beleza rústica.
Moisés conduz um elenco de 40 figuras movendo-se continuamente em ritmo lento, como nas evoluções dos coros gregos. E seu ator-protagonista participa, sempre, com todos os seus sentimentos de horror, medo e angústia à flor da pele, humanizando-o.
Toda a equipe (figurinos, luz com recursos artesanais de velas e lanternas, adereços cênicos de impacto visual fazendo crescer a arena ao ar livre da cena) mais a direção musical e os instrumentistas, fazem desta encenação um evento de rara magia cênica.
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Serviço:
Morte e Vida Severina
Oficina Cultural Mazzaropi (onde funciona também a SP Escola de Teatro), à Avenida Rangel Pestana, 2401, Brás/ fones 2292-7071 e 2292-7711 SOMENTE NESTE SÁBADO (7 DE AGOSTO) ÀS 20 HORAS E NO DIA SEGUINTE ÀS 19 HORAS.