Maurício Mellone, editor do Favo do Mellone site parceiro do Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

A compra de um quadro de arte contemporânea provoca uma reviravolta na relação entre Ivan, Marcos e Sérgio, vividos por Vladimir Brichta, Marcelo Flores e Claudio Gabriel. Direção de Emílio de Mello
SÃO PAULO – Partir de um fato corriqueiro para discutir temas profundos da relação humana. Mais uma vez a dramaturga francesa Yasmina Reza tem esta intenção com a peça ARTE, em cartaz na cidade, no Teatro Renaissance, depois de grande sucesso carioca.
Assim como fez em Deus da Carnificina — que a briga entre dois garotos na escola provoca um turbilhão na vida de seus pais —, desta vez é um quadro de arte contemporânea (supostamente em branco) adquirido por Sérgio, interpretado por Claudio Gabriel, causa uma revolução na relação de amizade entre ele e Marcos e Ivan, vividos por Marcelo Flores e Vladimir Brichta. Mais do que discutir conceitos estéticos das artes plásticas, os três rapazes entram numa briga visceral, trazem à tona rugas antigas, pontos de vista diversos sobre a vida, colocando, inclusive, em cheque a amizade entre eles.
Com tradução e direção assinadas por Emílio de Mello, a montagem é totalmente despojada, com os atores se desdobrando como contrarregras na montagem dos ambientes de cada cena — são poucos elementos cênicos que caracterizam os apartamentos dos personagens. E também são os próprios atores que executam a trilha sonora (tocam instrumentos e acionam o equipamento), o que torna natural a sintonia entre palco plateia.

A cena inicial já vai ao âmago da discussão: o quadro é colocado estrategicamente em foco por Sérgio para que Marcos aprecie e dê sua opinião. A reação é um riso espontâneo e a desaprovação imediata à obra, principalmente quando o amigo sabe o valor pago por Sérgio. Eles se desentendem e Marcos procura Ivan para contar o ocorrido. Ivan, mais moderador, ouve atentamente o amigo e visita o outro; como não se expõe explicitamente, surge a discórdia entre os três. O que menos importa na discussão é o valor artístico do quadro: é a partir dele que as desavenças entre os amigos aparecem.
O modo de encarar a vida, princípios, valores, sentimentos são questionados a fundo. Os três põem do avesso a relação deles. O que mais me impressionou no espetáculo é a forma como a autora encontra para chegar ao denominador comum.
“O texto apropria-se de situações corriqueiras e mundanas e nos devolve toda uma discussão sobre questões da sociedade e do mundo contemporâneo.”, afirma Emílio de Mello.
Vladimir Brichta, que pela primeira vez produz um espetáculo — tem como parceiros seu colega de palco Marcelo Flores e o diretor — confessa estar fascinado com a peça, que assistiu em Buenos Aires:
“Yasmina usa com maestria do humor : de forma corrosiva, destrói o verniz social e nos expõe a todos de forma demasiadamente humana”.
Além do texto da dramaturga francesa cativar por sua proposta tragicômica, ARTE enlaça o espectador graças à interpretação afinada e em perfeita sintonia entre os três atores.
Destaque também para o figurino de Marcelo Olinto e a iluminação de Tomás Ribas.
Roteiro:
ARTE. Texto: Yasmina Reza. Tradução e direção: Emilio de Mello. Elenco: Vladimir Brichta, Marcelo Flores e Claudio Gabriel. Cenário: Aurora Campos. Figurinos: Marcelo Olinto. Iluminação: Tomás Ribas. Criação musical: Marcelo Alonso Neves. Fotos: André Wanderley. Produção executiva: Wagner Pacheco. Produtores: Emílio de Mello, Marcelo Flores e Vladimir Brichta.
Serviço:
Teatro Renaissance (462 lugares), Al. Santos, 2233, tel. 3069-2286. Horários: sextas às 21h30, sábados às 21h e domingos às 18h. Ingressos: R$80,00. Bilheteria: de terça a sábado das 14h às 20h; domingo das 14h ás 19h. Pagamento: cartões, dinheiro ou cheque. Vendas: 4003-1212 e www.ingressorapido.com.br. Duração: 90 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 07 de outubro.