Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Vermelho, de John Logan, sob direção de Jorge Takla, em cartaz no recém-inaugurado Teatro Geo, apresenta o relacionamento profissional de um pintor de talento reconhecido e o seu aprendiz. Em seu ateliê, em Nova York, em 1958, Mark Rothko recebe o seu assistente, Ken. É a primeira cena da peça e, a partir daí, o público é brindado com diálogos inteligentes que colocam em questão as atitudes humanas e a arte.
A peça nos coloca diante de um homem que questiona os próprios valores. Um criador que vê a arte como um meio de levar o espectador ao deslumbre e à reflexão, mas que acaba aceitando uma encomenda de telas para um restaurante, para satisfazer o seu ego e atraído pelo alto valor do cachê.
Rothko é um homem rude e o relacionamento com Ken se restringe ao ambiente de trabalho. Não se sabe se isso acontece por egocentrismo ou medo de se mostrar ao outro, com suas falhas e qualidades.
O relacionamento pintor/aprendiz apresenta, portanto, uma aparente superficialidade, mas a vida dessas pessoas se transforma com a convivência.
Ken obviamente tem a oportunidade de conhecer um dos grandes nomes da pintura e Rothko entra em contato com um espírito crítico, cheio de esperança. É aí que consegue mostrar a sua conduta errônea no caso dos painéis para o restaurante, um lugar que certamente é frequentado por pessoas que não saberão dar às obras o seu verdadeiro valor.
Com uma tradução competente, assinada por Rachel Ripani, a encenação é dinâmica e instigante. Os diálogos são inteligentes e mesmo quem não é especialista em arte entenderá tudo o que é falado.
Os embates são produtivos e, através da arte e de questionamentos sobre o fazer artístico, podemos refletir sobre o homem na sociedade, e sobre até que ponto nossas ações e atitudes colaboram para a nossa evolução. Um texto escrito há mais de cinquenta anos, mas que apresenta discussões pertinentes à atualidade.
O cenário ambienta o espectador no ateliê do artista. Dá aos atores a possibilidade de transitar com facilidade no palco e transmitir com precisão o cotidiano do pintor. Os quadros, que são movimentados em vários momentos, são o destaque.

A luz, como o próprio Antonio Fagundes salientou em debate após a apresentação, ¨pulsa juntamente com as obras¨ Enfatiza, portanto, a emoção das cenas e dá aos quadros vitalidade.
A trilha segue o mesmo caminho, acompanha os momentos de criação e de interação entre Ken e Rotko.
Os atores apresentam uma cumplicidade que merece aplausos. Bruno e Antonio Fagundes apresentam interpretações louváveis e uma química que emociona. Vale ressaltar que os personagens são vividos com tal intensidade que nos esquecemos do parentesco entre eles e viajamos na história de Ken e Rothko.
Bruno Fagundes formou-se em Artes Cênicas em 2006, na Escola Incenna, encenando o espetáculo Gente que Faz, autoria de sua mãe, Mara Carvalho. Durante o curso, encenou peças, como Pã, também de Mara, Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare, e Procura-se uma Rosa, de Vinícius de Moraes. Em 2007, já como ator profissional, apresentou A Lua sobre o Tapete, de OlairCoan.
Em Vermelho, Bruno encarou com seriedade o desafio de atuar ao lado do pai. O resultado é muito bom. Bruno é um ator promissor, que a cada trabalho demonstra mais o seu talento.
Antonio Fagundes é um dos grandes atores do nosso país e brilha como o pintor. Dá a cada fala e a cada gesto uma emoção tocante.
No saguão do teatro há uma exposição que mostra detalhes sobre a vida e a obra de todos os artistas citados no texto.
O objetivo é proporcionar ao público um entendimento mais claro sobre o que é falado no palco. Além disso, os atores realizam uma conversa com a plateia em todas as sessões. Fagundes mantém essa tradição há muito tempo e merece elogios porque dá a oportunidade para as pessoas perguntarem detalhes sobre a encenação e sobre a obra.
Num país em que a diversão e a fama de um artista muitas vezes se sobrepõem à qualidade de uma obra, espetáculos que proporcionam reflexão e primam pela qualidade merecem ser vistos.
Equipe técnica:
Elenco: Antonio Fagundes
Bruno Fagundes
Texto de John Logan
Tradução: Rachel Ripani
Figurinos: Fábio Namatame
Iluminação: Ney Bonfante
Cenário e direção:Jorge Takla
Serviço:
Vermelho
Estreia: 30 de março, às 21h30
Local: Teatro GEO – Rua Coropés, 88 – tel. 3728.4930 – (próximo ao metro Faria Lima) – www.teatrogeo.com.br
Horários: quinta e sábado, às 21h; Sexta, às 21h30 e Domingos, às 18h.
Preços: Plateia R$ 120,00 e Balcão R$ 100,00
Duração: 80 minutos
Classificação Etária: 12 anos
Estacionamento: Valet c/ manobrista = R$ 25,00
Horário de funcionamento da bilheteria: terça, quarta e domingo das 12 às 20h; quinta, sexta e sábado, das 12 às 21h. As vendas para o espetáculo do dia serão encerradas 15 minutos antes do início do espetáculo.