Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Ver Gerald Thomas no teatro é uma verdadeira experiência. É difícil imaginar que o autor possa escrever uma história linear, dessas com o mínimo de lógica. O trunfo e o defeito de Thomas é esse: subverter. Vomita críticas, opiniões e pensamentos. É como uma viagem de conexões e não-conexões. Assim é Entredentes, em cartaz no Sesc Consolação.
Nessa nova empreitada, Thomas conta com o velho amigo e fã Ney Latorraca. Os dois estão no quarto trabalho juntos e esse reencontro artístico acontece cerca de duas décadas depois. Outro velho amigo e parceiro de cena de Thomas está no palco: Edi Botelho. E para desequilibrar a cena, uma presença feminina: a atriz portuguesa Maria de Lima.

Gerald Thomas desafia e sai do comum – como se espera dele. Um judeu e um palestino no muro de lamentações; um telão com a imagem de uma vagina aberta; uma portuguesa que desafia nossa brasilidade; críticas à TV, à propaganda ou qualquer coisa que não seja esperado. Tudo isso e mais um pouco está em Entredentes.
Algumas críticas são geniais como comparar um trabalho publicitário a de um michê. Outras mereciam ser mais exploradas como o encontro de um judeu e um palestino no muro das lamentações.
Gerald Thomas tem tanta coisa para falar que uma peça é pouco. Quem assiste viaja da época colonial brasileira à atualidade em um segundo. Os atores em cena, se viram, improvisam e dão um show. Embarcam junto com Thomas.
As notícias atuais estão no texto – e não duvido se outras forem acrescidas no meio da temporada. Aliás, Entredentes é atemporal. A história tem tantas possibilidades que pode ser contada a qualquer época ou tempo.

A própria história de Torraca se mistura. Em vários momentos, a recente internação do ator ou até iminente morte aparecem.
É uma história sem começo, meio e fim, sem tempo definido e de vários personagens. É um grito de Gerald Thomas para um mundo confuso em suas referências e seus papéis. A história começa em um possível futuro: astronautas estão explorando um novo mundo. Então, é para esse caminho que seguimos? Rumo a novas colonizações?
Ver Gerald Thomas é buscar perguntas e nunca respostas. Ver Gerald Thomas é não entender tudo que se passa em cena e tentar não se incomodar com isso. O autor coloca para pensar; traz críticas dos dois lados e de qualquer ângulo. E que pareça confuso: se você sair com algum desses montantes de desconexões ecoando na cabeça terá valido a pena.
Ficha Técnica
Autor e Diretor: Gerald Thomas
Elenco: Ney Latorraca, Edi Botelho e Maria de Lima
Direção de Produção: Willian Taranto
Cenografia: Gerald Thomas e Lu Bueno
Iluminação: Gerald Thomas e Wagner Pinto
Figurino e Programação Visual: Lu Bueno
Trilha Sonora: Gerald Thomas
Sound Designer: Tocko Michelazzo
Assessoria de Imprensa: Ney Motta
Assistentes de Direção: André Bortolanza e Gabriel Barone
Produção: Taranto Produções
Realização: SESC São Paulo
Serviço
Local: SESC Consolação – Teatro Anchieta. Rua Doutor Vila Nova 245, Vila Buarque, SP
Informações: 55 (11) 3234-3000
Capacidade de público: 280 lugares
Temporada: 11 de abril até 11 de maio. Sextas e sábados às 21h e domingos às 18h
Importante: No dia 18/4, NÃO haverá apresentação do espetáculo.
Ingressos: R$ 35,00 (inteira), R$17,50 (meia) e R$ 7,00 (trabalhadores do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes).
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 16 anos
Duração: 90 minutos