Nanda Rovere, do Aplauso Brasil (nanda@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Com o espetáculo Conselho de Classe, a Cia dos Atores comemora 25 anos de atividade e coloca em pauta a educação no Brasil. A temporada vai até o dia 16 de fevereiro, no SESC Belenzinho. A direção de Bel Garcia e Susana Ribeiro, atrizes da Cia, e o texto é de Jô Bilac. No elenco estão Cesar Augusto, Leonardo Netto, Marcelo Olinto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux.
A montagem está indicada ao Prêmio Shell 2013 (RJ) nas categorias direção, texto e cenário, e recebeu o Prêmio Cesgranrio nas seguintes categorias: melhor direção, cenografia, texto nacional inédito e melhor espetáculo de 2013.
No palco, o encontro de professoras de uma escola pública localizada no centro do Rio de Janeiro. O objetivo é a realização de um conselho de classe para se discutir questões relativas aos alunos e à administração.
A reunião acontece na quadra da escola e as relações, aparentemente amáveis, aos poucos vão se tornando tensas.
A chegada de um novo diretor faz com que as professoras exponham as suas desavenças éticas e discordâncias com relação ao modo de gerir a rotina escolar.
O embate entre quem acredita num ensino de qualidade (apesar das dificuldades) e de quem já cansou de lutar para que os alunos demonstrem interesse pelo saber e pela escola, é inevitável.
Conselho de Classe provoca reflexões sem cair no panfletarismo. A trama é muito bem humorada, apesar de tratar de um assunto sério, pertinente e atual.
Problemas cotidianos enfrentados pelos professores são tratados com inteligência por Jô Bilac e as situações apresentadas, de tão absurdas, levam o público ao riso.
O processo de criação foi coletivo e a montagem está bem estruturada. O texto, inteligente, é interpretado com competência por atores experientes, que vivem mulheres sem cair na caricatura.
Os figurinos são formados por roupas masculinas e o universo feminino é retratado através da entonação da voz e de alguns gestos e movimentos.
As diretoras Bel Garcia e Suzana Ribeiro optaram por uma encenação que ressalta muito bem os dramas pessoais dos personagens, as dúvidas que possuem enquanto educadores e a tentativa de realizar um ensino de qualidade, apesar da pouca vontade dos alunos em zelarem pela preservação do espaço escolar e de se dedicarem ao estudo.
Os diálogos acontecem de maneira calorosa e os momentos de maior tensão são explorados com maestria, com silêncios que deixam o ambiente mais pesado e os ânimos mais acirrados.
Todos os espaços da sala de espetáculos são utilizados com maestria. Não há um só detalhe que não seja bem aproveitado na organização e na utilização do espaço.
Neste sentido, o cenário merece destaque especial, pois retrata com precisão uma quadra de esportes da escola, com entradas e saídas para outras localidades da instituição. Além disso, os elementos de cena reforçam o tom realista da montagem.
Em cena, além de cadeiras, um ventilador velho e um telefone público servem para ambientar a narrativa na escola pública, que sofre com a falta de água, com a sujeira e com mosquitos que incomodam os personagens num dia de calor intenso.
Efeitos sonoros dão vigor e dinamismo à história, com toques de telefone e barulho da rua. Contribuem para situar a escola num local de grande movimentação, no caso, o centro do Rio de Janeiro.
O desenho de luz evidencia a emoção dos personagens e pontua os momentos de calorosos embates entre os personagens.
Os atores estão excelentes e não há ressalvas quanto à qualidade das interpretações. Marcello Olinto, na pele da velha funcionária da biblioteca, merece atenção especial devido ao seu trabalho corporal. Seus movimentos comedidos revelam com maestria um corpo cansado e debilitado de quem dedicou grande parte da sua vida à rotina escolar.
Projeto Cia dos Atores – 25 anos
A temporada comemora os 25 anos de existência de uma das companhias mais relevantes para a cena teatral contemporânea no Brasil. Além da temporada, haverá uma Oficina para Atores, de 31/1 a 8/2, coordenada por César Augusto e Marcelo Olinto (atores da Cia); a seleção já foi realizada. Nos dias 18 e 19/01 aconteceu um workshop com o autor da peça, Jô Bilac, sobre a criação de Texto Dramático. Também está programada uma sessão exclusiva da peça para educadores do SESC.
Ficha técnica
Texto: Jô Bilac
Direção: Bel Garcia e Susana Ribeiro
Assistência de direção: Raquel André
Elenco: Cesar Augusto, Leonardo Netto, Marcelo Olinto, Paulo Verlings e Thierry Trémouroux
Voz Off (Vivian): Drica Moraes
Cenário: Aurora dos Campos
Assistência de Cenografia: Vinicius Lugon
Direção de Palco: Wallace Lima
Figurino: Rô Nascimento e Ticiana Passos
Iluminação: Maneco Quinderé
Assistência e Operação de Iluminação: Orlando Schaider
Trilha Original: Felipe Storino
Operação de Som: de Diogo Magalhães
Fotografia: Vicente de Mello
Identidade Visual Original: Radiográfico
Consultoria Pedagógica: Cléa Ferreira
Direção de Produção: Tárik Puggina
Produção Executiva: Luísa Barros
Administração Financeira: Amanda Cezarina
Serviço:
Conselho de Classe
De 9/01 a16/02/2014. Quinta a sábado, às 21h30. Domingos e feriados (25/01), às 18h30
Duração: 1h20. Sala de Espetáculos I. 90 lugares.
Não recomendado para menores de 12 anos
Ingressos à venda pela Rede INGRESSOSESC (unidades do Sesc) e pelo Portal Sesc SP (www.sescsp.org.br):
Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000
Belenzinho – São Paulo (SP)
Telefone: (11) 2076-9700
Estacionamento
Para espetáculos com venda de ingressos:
R$ 6,00 (não matriculado);
R$ 3,00 (matriculado no SESC – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo/ usuário).