Perdemos uma das primeiras atrizes brasileira a ser indicada a um prêmio de cinema por sua performance no longa “Sinhá Moça”; perdemos uma artista de fibra, coragem e audácia que bateu de porta em porta para vender e lotar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro para a estreia do Teatro Experimental do Negro (no mesmo dia em que foi anunciado o fim da Segunda Guerra Mundial); uma estrela negra que destravou muitas portas neste país, vergonhosamente, tão preconceituoso, seja no teatro, no cinema ou na televisão. Ela conquistou seu merecido espaço de destaque graças a seu talento, vocação e muito, muito trabalho.
Como quase todos os descendentes de escravos no começo do século 20 (a abolição, que não trouxe consigo nenhum planejamento de inserção social dos recém-libertos em seu bojo), Ruth nasceu em berço humilde e suas perspectivas para ingressar na carreira de atriz não era das melhores, aliás a profissão era estigmatizada para as mulheres de forma geral, mas nossa pantera conseguiu romper todas as barreiras e destacou-se por si.
Os olhos com o brilho entusiasta, mesmo com quase um século de vida, será a pérola negra mais valiosa do cordão da História do Teatro Brasileiro. Damas de sua estirpe não se apagam, apenas se acendem em outras dimensões. Dona Ruth, sentiremos falta de seus olhos iluminados.