Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

Em texto de Franz Keppler e direção de Joca Andreazza, três personagens solitários na grande cidade divagam sobre o amor que sentem uns pelos outros. Com Ricardo Henrique, Marcia Nemer e Tiago Martelli
SÃO PAULO – Resumir Só…entre nós, peça de Franz Keppler que acaba de estrear no SESC Consolação, Espaço Beta, como um inusitado triângulo amoroso entre um professor de música, sua mulher e um de seus alunos, seria um olhar restrito à proposta dramática. Mais do que relatar o amor que o professor Henrique, vivido por Ricardo Henrique, sente ao mesmo tempo pela esposa Carol (Marcia Nemer) e pelo pupilo Tiago (interpretado por Tiago Martelli), o autor discute neste texto as várias possibilidades de amar, com os personagens sentindo solidão num grande centro urbano contemporâneo e refletindo sobre as perdas amorosas e o sentido da vida. A identificação do espectador com a trama é imediata.
Na pequena e por isso mesmo aconchegante sala de espetáculo, a plateia entra e já se depara com os três atores sentados, na penumbra. Com o início, os três se movimentam no espaço, numa coreografia que serve como prólogo do triângulo amoroso vivido por Henrique,Tiago e Carol. Ao começar as falas, o espectador compreende que o aluno e a mulher relatam ao professor seus momentos de amor vividos ao lado dele e há uma profusão de tempos e períodos cronológicos.
“Aqui o tempo não se constrói em sucessão linear de fatos, mas na exposição delicada, ora no momento presente, ora no plano da memória e finalmente na interferência entre ambos. Reconhecemos a percepção poética do amar, sem a possibilidade de que o egoísmo destrua a delicada relação entre os protagonistas, relação sustentada na dimensão do amor que extrapola as fronteiras dos desejos individuais de um mero romantismo”, define o diretor Joca Andreazza.
A movimentação inicial dos atores pelo espaço continua (cenário é constituído só por três cadeiras) e eles não contracenam: Carol e Tiago dirigem seus relatos ao professor, que é mais ouvinte do que um participante do diálogo; não há o olho no olho (eles desviam o olhar quando estão lado a lado), o que evidencia a solidão pela qual todos se encontram. Há uma incomunicabilidade entre os personagens, que o público compreende só com o decorrer da trama.

Perdas, amores encerrados, arrependimentos, vazios emocionais e, por fim, a superação do trauma pelo entendimento da dimensão do amor e da vida é o que propõe este comovente espetáculo de Franz Keppler.
Foi difícil conter as lágrimas. Fui fisgado de maneira mansa e delicada por esta trama sensível e contagiante!
Além da excelência do texto, Só…entre nós se destaca ainda pela direção que traz à tona as sutilezas da trama e consegue extrair de jovens atores o promissor talento que têm.
O espetáculo é apresentado às segundas e terças, só até 15 de julho. Portanto uma temporada curta, não deixe de prestigiar, tenho certeza que irá se emocionar muito.
Roteiro:
Só… entre nós. Texto: Franz Keppler. Direção: Joca Andreazza. Elenco: Marcia Nemer-Jentzsch, Ricardo Henrique e Tiago Martelli. Iluminação: André Lemes. Figurino: Marcia Nemer-Jentzsch. Visagismo: Jessé Tamellini. Fotografia: Michel Igelka.
Serviço:
SESC Consolação, Espaço Beta (50 lugares), Rua Dr. Vila Nova, 245, 3º andar, tel: 3234-3000. Horários: segunda e terça às 20h. Ingressos: R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (usuário SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública); R$ 2,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes). Duração 45 min. Classificação: 12 anos. Temporada: até 15 de julho.