Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

Primeiro ato de Três Dias de Chuva, peça de Richard Greenberg, se passa em 1995, o segundo em 1960 e os atores Otávio Martins, Carolina Ferraz e Petrônio Gontijo interpretam dois personagens cada um, vivendo pais e filhos
SÃO PAULO – Num grande telão onde é projetado um vídeo da cidade de Nova York com cenas das posses dos presidentes norte-americanos — (década de 1960- Kennedy, década de 1970 – Nixon, década de 1980 – Reagan e década de 1990 – Bill Clinton) — a peça de Richard Greenberg, Três Dias de Chuva, em cartaz no Teatro Raul Cortez começa exatamente em 1995.

Num loft antigo, os irmãos Walker e Anna, interpretados por Otávio Martins e Carolina Ferraz, que não se viam há um ano depois da morte do pai, se reencontram para irem à partilha dos bens da família. Eles encontram um velho diário do pai e, entre lê-lo ou não, decidem ir ao encontro de Pit, vivido por Petrônio Gontijo, filho do sócio do pai que também foi chamado para a abertura do testamento.
Com este mote, a peça, escrita em 1997 e só agora encenada no Brasil, é um grande quebra-cabeça, pois no segundo ato há um recuo de mais de 30 anos, em que os pais destes personagens é que estavam no início da carreira e todo o conflito da trama é engendrado.
Mesmo a trama tendo dois momentos históricos distintos, o cenário é o mesmo e um grande atrativo da montagem: Marco Lima criou um ambiente em que há três dimensões, o interior do loft, o fundo externo e a frente do prédio. No início, o local está meio abandonado, mas é lá que Walker se identifica e encontra o diário do pai (escrito em forma de códigos), que vai ajudar a decifrar história de duas gerações, a sua e a de seus pais.
“Falamos de família, de relação entre gerações. O que está em jogo é a palavra amor, em todos os sentidos”, conta Otávio Martins, que vive Walker e o pai dele, Ned.
Dentro desta concepção, Petrônio, que interpreta o ator de TV Pit e seu pai, Theo, arquiteto e sócio de Ned, tem uma definição peculiar sobre a trama:
“Penso que é extremamente difícil uma geração passar à outra o cerne do que realmente aconteceu. Esta peça fala sobre isto, ousando romper o tratado entre o tempo e o espaço”, diz o ator.
Carolina também interpreta duas personagens: vive a irmã de Walker e Nina, namorada de Theo. Além da diferença de temperamento e visão de mundo entre os dois arquitetos, Nina vai alterar profundamente a relação entre eles.
“Temos um grande texto nas mãos, cheio de sutileza e curvas suaves, com descobertas muitas vezes desconcertantes. Vejo neste trabalho uma grande oportunidade como atriz de me superar, me reinventar”, confessa Carolina.
Na direção, Jô Soares, que também assina a tradução e adaptação da peça, foi hábil em pontuar os conflitos e as nuances de cada personagem. Na volta para o segundo ato, novamente o vídeo é projetado, só que desta vez retrocedendo no tempo, o que facilita na compreensão da narrativa.
Fiquei muito impressionado com o rigor e a riqueza de detalhes com que os atores delinearam seus personagens. De um ato para outro, o público sente o árduo trabalho de composição dos atores. Talvez por ter assistido na estreia para convidados, senti que falta ritmo ao espetáculo. Mas como a temporada é longa (em cartaz até o fim do ano), Três Dias de Chuva tem tudo para agradar o grande público, pois fala da relação amorosa que une a todos nós.
Destaque ainda para a iluminação de Maneco Quinderé e os figurinos de Fabio Namatame.
Roteiro:
Três Dias de Chuva. Texto: Richard Greenberg. Direção, tradução e adaptação: Jô Soares. Elenco: Carolina Ferraz, Otávio Martins e Petrônio Gontijo. Assistente de direção: Carol Bastos. Desenho de Luz: Maneco Quinderé. Cenografia: Marco Lima. Música original: Duda Queiros. Figurino: Fabio Namatame. Fotografia: Priscila Prade. Direção de produção: Ed Júlio. Produção executiva: Gabriel de Souza. Realização: Baobá Produções Artísticas.
Serviço:
Teatro Raul Cortez (520 lugares), Rua Dr. Plínio Barreto 285, tel. 3254.1631. Horários: sexta às 21h30, sábado às 21h e Domingo às 19h. Ingressos: sexta e domingo R$ 60; sábado, R$ 70. Vendas: 4003.1212 – www.ingressorapido.com.br. Duração: 85 minutos. Classificação: 14 anos. Temporada: até 16 de dezembro de 2013.