Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil
O grupo carioca, fundado em 1996, chega à capital paulista para uma mostra de repertório. Além de Últimos Remorsos Antes do Esquecimento, do francês Jean-Luc Lagarce, estão no CIT-Ecum com A Serpente, Nelson Rodrigues

SÃO PAULO – Só depois de 17 anos — e dezesseis espetáculos na carreira — que a Cia carioca Os dezequilibrados traz a São Paulo uma mostra de seu repertório. Revezando A Serpente, de Nelson Rodrigues, e Últimos Remorsos Antes do Esquecimento do dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce, o grupo, dirigido por Ivan Sugahara, se apresenta no CIT-Ecum até o dia 3 de novembro.
A trama de Lagarce se passa nos dias atuais, mas remonta a história de um triângulo amoroso que ocorreu na juventude dos personagens, quando Hélène (Cristina Flores), Paul (Thiago Ristow) e Pierre (José Karini) compraram uma casa de campo. Hoje cada um vivendo sua vida separadamente (já casados e com filhos), marcam um encontro na casa para resolverem o que fazer com o imóvel. Mas é óbvio que o que menos se discute é sobre a divisão patrimonial: velhas mágoas, ressentimentos, traições é que vêm à tona.
Num palco vazio, preenchido somente com algumas cadeiras, os seis personagens entram e de forma fragmentada a história começa a ser contada. O espectador precisa de um tempo inicial para entender quem é quem na trama; aos poucos percebe-se que os três amigos da adolescência hoje pouco se falam e há anos não se encontram.
Hélène, que chega acompanhada do marido Antoine (Saulo Rodrigues) e da filha Lise (Nara Parolini) é a primeira a entrar em atrito com Pierre, que permaneceu morando na casa. Paul, que trouxe para a reunião a sua mulher Anne, vivida por Letícia Isnard, procura apaziguar os amigos, mas também se exalta com ambos.
O que realmente motivou o encontro dos três amigos é a situação financeira precária de todos: as despesas com a casa, que precisa de manutenção, e a vontade de auferir algum dinheiro daquele imóvel fez com que eles voltassem a se ver. No entanto, o que menos é discutido são as medidas práticas a serem tomadas; o passado vem à tona e, entre uma discussão e outra, sorrateiramente Hélène beija primeiro Pierre e depois Paul, sem que um não veja o beijo do outro. Mas os ressentimentos são mais fortes e não há hipótese de reconciliação, como fica evidente pelo título da peça.
Um recurso utilizado, o português falado em cena é o de Portugal, é defendido pelo diretor como uma forma de se evidenciar as “fissuras do modelo realista”:
“O estilo de linguagem reforça a estranheza do texto e o jogo teatral estabelecido pelo despojamento cenográfico”, argumenta Ivan Sugahara, que assina ainda a trilha sonora e a cenografia.
Não conhecia Os dezequilibrados e tive uma bela surpresa: o grupo é coeso e em cena os atores estão em perfeita sintonia. Com um texto corrosivo e que provoca estranheza — confesso que a fala dos personagens me angustiou no início, pois o estilo lisboeta de linguagem traz um excesso de formalismo para as situações — faz com que o público reflita e analise as relações afetivas dos dias atuais.
Roteiro:
Últimos Remorsos Antes do Esquecimento. Texto: Jean-Luc Lagarce. Tradução: Alexandra Moreira da Silva. Direção, cenário e trilha sonora: Ivan Sugahara. Assistência de direção: Diego de Angeli. Elenco: Cristina Flores, José Karini, Letícia Isnard, Nara Parolini, Saulo Rodrigues e Thiago Ristow. Figurino: Ângela Câmara. Iluminação: Renato Machado. Fotografia: Dalton Valério. Produção executiva: Gabriel Salabert. Realização Nevaxca Produções e Os dezequilibrados
Serviço:
CIT-Ecum, Sala 1 (134 lugares), Rua da Consolação, 1623, tel. 11 3255-5922. Horários: sábado às 19h e domingo às 20h. Ingressos: R$40 e R$20. Pagamento: cartões e dinheiro. Bilheteria: de segunda a sexta, das 14h às 18h. Central de vendas: (11) 2122-4070 www.compreingressos.com. Ar condicionado. Acesso para portadores de necessidade especial. Duração: 75 min. Classificação: 14 anos. Temporada: até 03 de novembro.