Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

Com humor e delicadeza Cucaracha, montagem do grupo carioca Teatro Independente, mostra encontro inusitado entre uma mulher que está em coma profundo há anos e sua enfermeira. Com Júlia Marini e Carolina Pismel
SÃO PAULO – Depois do sucesso das peças Cachorro, de 2007, e Rebu em 2009, a companhia carioca Teatro Independente traz o comovente espetáculo Cucaracha, que fica em cartaz no SESC Santo Amaro até início de junho.
Neste terceiro trabalho, a parceria entre o dramaturgo Jô Bilac e o diretor Vinicius Arneiro acentua a discussão sobre a cumplicidade entre as pessoas.
Partindo de uma situação improvável — uma paciente em coma recebe cuidados de uma enfermeira —, estas duas mulheres se aproximam, dialogam, criam um vínculo afetivo profundo e transcendem a noção do tempo.

Por mais triste e até incompreensível que possa ser a situação da paciente Vilma (vivida por Júlia Marini) que permanece em coma profundo e nunca recebe visitas, o tom escolhido pelo autor para iniciar a trama é o de humor e graça: a enfermeira Mirrage, interpretada por Carolina Pismel, ao mesmo tempo em que cuida da doente não se desgruda do aparelho de TV que exibe sua telenovela preferida.
Este tratamento mecânico e impessoal é quebrado, de maneira natural, já na segunda cena, quando Vilma sai da cama e começa um diálogo aberto e sensível com sua enfermeira.
“Trata-se de uma peça que reflete sobre renovação e cumplicidade, por meio do encontro de duas personagens em estados diferenciados de vida. Uma fabulação do encontro regido pelo acaso (ou destino?), que relativiza em cada uma delas a noção de tempo”, diz o diretor Viniciús Arneiro sobre a proposta da peça.
Entrei na sala de espetáculo — diga-se de passagem, aconchegante e de excelente estrutura — alheio a um enredo dramático e embarquei totalmente na proposta do grupo: pelo humor e sutileza fui engendrado num turbilhão de comoção quase incontrolável.
Por já ter vivido situação semelhante, saí da peça com a vontade de partilhar da mesma dimensão em que aquelas personagens vivem!
Deixar o real (nem que seja por instantes) e vivenciar uma situação em que a superação e a inexistência de dor e sofrimento sejam possíveis é o sonho de todos.
Exatamente isto o que ocorre com Vilma e Mirrage, que não só conseguem uma aproximação física, como se tornam confidentes e parceiras na vida.
Com uma composição de personagem sensível e tocante de Júlia Marini e Carolina Pismel, Cucaracha se destaca ainda pela perfeita sintonia entre os demais elementos cênicos: o cenário de Aurora dos Campos, a iluminação de Paulo César Medeiros, o figurino de Thanara Schönardie e o som de Daniel Belquer são elementos narrativos e sintetizam o clima criado pela trama, num misto de realidade e sonho.
Este terceiro trabalho do jovem, criativo e talentoso Teatro Independente tem tudo para cumprir uma carreira de muito sucesso e reconhecimento tanto do público como da crítica. Imperdível!
Roteiro:
Cucaracha. Texto: Jô Bilac. Direção: Viniciús Arneiro. Elenco: Carolina Pismel e Júlia Marini. Música e som cênico: Daniel Belquer. Iluminação: Paulo César Medeiros. Cenografia: Aurora dos Campos. Figurinos: Thanara Schönardiem. Designer gráfico: Diogo Liberano. Fotografia: Paula Kossatz. Direção de produção e voz do alto-falante: Paulo Verlings. Produção executiva: Ed Moraes.
Serviço:
Sesc Santo Amaro (279 lugares), Rua Amador Bueno, 505, Santo Amaro, tel, 5541-4000. Horários: quinta e sexta às 21h e sábado, às 20h. Ingressos: R$ 16,00 (inteira), R$ 8,00 (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, professores da rede pública de ensino e estudantes), R$ 3,20 (comerciário matriculado no SESC). Venda pela Rede INGRESSOSESC e na bilheteria, de terça a sexta das10h às 21h30, aos sábados, domingos e feriados das 10h às 18h30. Duração: 70 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 14 de junho.