Texto atualizado em 03/12, às 11h04
Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Assistir White Rabbit, Red Rabbit (Coelho Branco, Coelho Vermelho) é uma experiência louca e única para o ator ou atriz em cena e para o público. Em cartaz no Teatro Ágora até 15 de dezembro, o espetáculo traz como proposta que a cada apresentação vá um ator diferente – ele(a) só conhece a peça na hora em que está no palco. É uma descoberta conjunta com os expectadores. A repórter que vos escreve acompanhou a sessão extra encenada por Thiago Lacerda, no domingo (01/12), às 18h.
Para falar de White Rabbit, Red Rabbit (Coelho Branco, Coelho Vermelho) é preciso esclarecer algumas questões antes. Primeiro, é fundamental que se fale quem está em cena. Cada apresentação se torna única. Tudo ali depende do ator e da plateia. O público participa do espetáculo tanto quanto o ator.
Os dois compartilham não só da descoberta do texto como também da cena. Sim, o público a todo o momento participa (mesmo). O nome do espetáculo também não pode ser completamente traduzido. Talvez por isso, o nome apareça em inglês e português. É importante delimitar e deixar claro que foi um texto escrito em inglês por um iraniano, que tem pretensões – no caso bem sucedida – de viajar o mundo por meio de um texto. O autor também está ali no palco. Ainda que não fisicamente, ele se coloca no texto. E passa até o e-mail para que as pessoas escrevam. Questiona em que ano aquilo está sendo montado, diz ter 29 anos (em 2010, quando escreveu a peça) e se pergunta em que países e língua estariam passando o espetáculo.
Rabbit, Red Rabbit (Coelho Branco, Coelho Vermelho) é uma peça de nome esquisito, né? O que Nassim Soleimanpour quer com o seu texto “viajante” é debater morte, repressão, vontade, vida, solidão, preconceito, estereótipos, conformismo e cultura. Ora, é bem pretensioso. Mas, funciona e bem. E ele se usa de fábula (que dá nome a peça), metalinguagem, da própria vida e consegue brincar e incorporar a vida de quem nem conhece (no caso o público e o ator). Alterna drama e humor com maestria.
A peça começa com o ator recebendo o texto, e em um exercício de obediência todos fazem e seguem o texto. Obediência questionada pelo próprio autor, em certo momento. Todos são números. E pelos números são chamados a participar ou fazer coisas. Irônico, como na vida somos muitas vezes – senão em todas – números. Sim, a plateia tem que se contar… na sessão de domingo tinham 34 pessoas.
Em meio a muitos amigos e alguns desconhecidos do ator Thiago Lacerda encarou bem o desafio. Entrou no jogo com a plateia e compartilhou de certo nervosismo, surpresa e de sensações do texto. Um clima intimista e íntimo. Todos estão no mesmo barco.
É uma experiência teatral que coloca para pensar. O autor divide seus anseios e sonhos. Nos faz pensar nos nossos também. Nassim é angustiado por viver no Irã. Sem passaporte e com medo da repressão, ele é um inconformado e nos ensina muito sobre isso. Como diria o escritor e dramaturgo Bertolt Brecht só os insatisfeitos mudarão o mundo e Nassim é um deles. E nos torna e faz cúmplices pelo mundo com seu texto. E por isso, o fez em inglês – com dificuldade, como ele mesmo relata. Se escrevesse em sua língua como poderia o mundo compartilhar de suas angústias e questões? Mia Couto, escritor Moçambicano, disse certa vez que está condenado a ser um escritor que escreve em português.
Com White Rabbit, Red Rabbit (Coelho Branco, Coelho Vermelho) Nassim tenta ganhar o mundo e por isso escreveu em inglês. Fez uma peça: Um teatro para pensar, cheia de perguntas e com potencial para mudar algo. Assim como pregava Brecht no seu teatro épico.
Ficha técnica:
White Rabbit, Red Rabbit (Coelho Branco, Coelho Vermelho) Texto: Nassim Soleimanpour. Tradução: Mauricio Ayer. Produção Brasil: Aymberê Produções Artísticas Ltda. Espetáculo produzido em parceria com Aurora Nova e Wolfgang Hoffmann. Dramaturgia: Daniel Brooks e Ross Manson. Duração: 60 minutos. Temporada: quintas, sextas e sábados, às 21h, e domingos às 20h. Preço: R$ 40,00 (inteira) e R$ 20,00 (meia). Ingressos podem ser adquiridos pelo site www.ingresso.com.br
VEJA QUEM IRÁ ATUAR NAS PRÓXIMAS APRESENTAÇÕES:
Raul Barretto ( 5 de dezembro), Nando Nitsch (6 de dezembro, sexta), Chico Carvalho (7 de dezembro, sábado) e Heitor Goldfus ( 8 de dezembro) fazem a peça nesta semana. Na próxima tem Maria Fernanda Cândido (12 de dezembro, quinta), Rubens Caribé (13 de dezembro, sexta), Otavio Dantas (14 de dezembro, sábado) e Denise Del Vechio (15 de dezembro, domingo).
TEATRO ÁGORA – (Sala Giani Ratto), Rua Rui Barbosa, 672 – Bela Vista. Telefone – (11) 3284-0290. Bilheteria – desegunda a domingo das 14 às 20 horas. Não aceita cartão. Cheque, cartão de débito e dinheiro. Tem ar condicionado. Tem acesso para deficientes físicos. Capacidade: 88 Lugares.