Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

A dramaturga Beatriz Carolina Gonçalves propõe em Invasor(es) uma discussão íntima e profunda entre um homem e uma mulher envolvendo uma propriedade agrária. Direção de Roberto Alvim com Paula Cohen e Joca Andreazza
SÃO PAULO – Para um texto inédito e experimental como Invasor(es), de Beatriz Carolina Gonçalves, nada melhor do que o Espaço Cênico, do SESC Pompeia, que comporta plateia de no máximo 50 pessoas. Ao entrar, o público já é envolvido no clima tenso que a peça propõe: os atores Paula Cohen e Joca Andreazza estão em cena, com uma iluminação tênue, e suas falas não têm ligação imediata, cada um divaga e discorre sobre sua visão do problema.
Aos poucos o diálogo começa a se encaixar e o espectador percebe que por traz do drama particular daquela mulher e daquele homem há uma questão social mais premente: a luta pela posse da terra. Além da defesa da propriedade onde moram, os personagens também questionam a relação de posse e interdependência entre eles.
A grande discussão da peça é sobre quem é o verdadeiro invasor daquela propriedade: os trabalhadores, descendentes de índios que foram expulsos e dizimados e que agora querem recuperar suas terras ou o fazendeiro que se apropriou da região expulsando os moradores nativos, os índios, há tempos remotos.
No entanto, estas relações trabalhistas e sociais vêm à tona por intermédio da difusa e interdepende relação entre os dois personagens — eles são irmãos ou formam um casal? Dúvida lançada pela autora que o espectador deve decifrar no decorrer da trama.
“O espetáculo, embora trafegue por questões sociais urgentes, também alcança, por gravitação inevitável, questões psicoanalíticas ligadas à posse e à proteção daquilo ou daqueles que supostamente nos pertencem”, explica o diretor Roberto Alvim.
Numa encenação minimalista, em que os atores se deslocam pausadamente e os diálogos são de forma fragmentada e com vazios que devem ser preenchidos pelo espectador, Invasor(es) incita a plateia a refletir sobre os conflitos suscitados, tanto os concretos e palpáveis como os subjetivos:
“Nossa ambição com esta encenação é instaurar uma obra de arte de lastro político, que no entanto não se esqueça dos discursos do inconsciente. A encenação ilumina os complexos movimentos que correm por baixo de nossas ações, expondo a dimensão política como tradução dos vetores contraditórios e incompreensíveis de nossos desejos”, conclui o diretor.
Espetáculo denso e reflexivo, que faz com que o público saia da sala de exibição com indagações sobre quem é o invasor, proposto pelo título da peça, e de que invasões a autora se refere. Destaque para a direção e concepção do espetáculo de Roberto Alvim e a interpretação visceral de Paula Cohen e Joca Andreazza, que estão em sintonia magistral em cena.
Roteiro:
Invasor(es). Texto: Beatriz Carolina Gonçalves. Direção e iluminação: Roberto Alvim. Assistente de direção: Marcelo Rorato. Elenco: Paula Cohen e Joca Andreazza. Cenário e figurino: Simone Mina. Trilha sonora: Fabrício Cardial. Fotografia: Arnaldo Pereira. Direção de produção e administração: Texto Intermídia. Produção executiva: Eliane Sombrio.
Serviço:
SESC Pompeia, Espaço Cênico (50 lugares), Rua Clélia, 93, tel: (11) 3871-7700. Horários: sextas e sábados às 21h30, domingo às 19hs. Ingressos: R$ 16,00 (inteira); R$ 8,00 (usuário SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública); R$ 4,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes). Classificação: 16 anos. Duração: 45 minutos.
Temporada: até 7 de julho.