SÃO PAULO – O espetáculo Mulheres de Shakespeare está chegando em Paulo. Como parte da produção e responsável pelas contrapartidas de formação de público recebi a bonita missão de falar sobre arte e Shakespeare por aí. Algumas palestras ainda acontecerão. Mas as primeiras foram no Céu Água azul, na Cidade Tiradentes. Local que fica a 35 KM da Paulista – só para uma referência e onde um grupo de teatro chamado Pombas Urbanas faz um importante trabalho.
Antes de eu dividir um pouco dessa experiência, vamos a tal da contrapartida. O projeto vai acontecer graças a captação da Lei Rouanet. Isso significa que uma empresa apostou na gente e vai usar um tanto do seu imposto arrecadado para nos dar para o espetáculo. No final, estamos usando dinheiro público e a empresa (no caso a Renner) também. Como é um dinheiro da sociedade, há contrapartidas sociais a serem cumpridas e nós levamos a sério isso.
Além de ingressos para ONGS e outras ações temos as ações formativas, que nada mais é do que formar plateia e trazer interesse pelo teatro e informar público e estudantes sobre o processo que estamos montando. Foi o que fui fazer no CÉU Água Azul.
A experiência com a formação de plateia no CÉU foi única. Primeiro porque foram dois públicos diferentes. O primeiro eram adolescentes que não entendiam de Shakespeare e achavam que a Inglaterra era algo sonhado e distante, até mesmo de um livro. Estamos falando de uma São Paulo onde a arte quase não chega. Digo. Temos ali em Cidade Tiradentes o Pombas Urbanas e essa influência é clara e notória ali.
Meu papel não podia ser impor uma arte a eles, mas fazê-los entender que a arte existe neles e como se expressam. “Fantoche é teatro?” “O que você acha do Maurício de Souza?” “Você vê tanto teatro, não cansa?” “Já sofreu bullying porque escreveu mal de alguém”? “Como a gente critica uma arte?” “Teatro é livro”? Uma das professoras no final me disse que foi valiosa a experiência porque eles participaram. Recebi abraço em bando e um carinho único de crianças que muitas vezes só querem perguntar para entender o mundo. O poder da arte é este. E uma delas me abraçou e disse “você é boa de apresentação”.
Ali ganhei meu dia, porque são eles a plateia mais difícil. Bem, uma delas me emocionou. Disse que faz oficina e teatro no CÉU e está com uma peça. A história é de uma princesa que casa com o príncipe e depois de um tempo passa a ser abusada. Ela então mata o príncipe e pega o reino. Sobrevivência. É com isso que nos confrontamos lá e que bom que há a arte para isso: a arte Salva.
Já no EJA a experiência foi outra. adultos, estavam lá para ter uma aula. São resistentes e com outros objetivos. Quebrar o gelo foi mais difícil, mas eu consegui. Recebi perguntas sobre como é meu processo. Se um homem pode ser mulher no teatro e vice e versa. Um menino me disse que a arte só é arte quando gente como eu legitima isso e quando isso vem da onde eu venho. Eu concordei. E disse que é por isso que ele tinha que fazer onde fosse. Que tinha uma voz e a voz era dele e não precisava de lugar pra isso. Falamos como o Jazz virou coisa de elite mesmo vindo das ruas e dos negros americanos, de como Clara Nunes nem do morro era. Falamos de Gota d’ Água – texto do Chico Buarque – falamos de negros e pobres em cena. Em Billy Eliot tem dois meninos protagonistas vindos de CÉUS de SP.
A arte é o que vai dizer pro mundo e pra você que você pode ir longe, ou além do que dizem, porque opinião e visão faz voar. Queriam então saber de Shakespeare. Eles conhecem pouco, mas entenderam a atualidade, viram que aquilo estava mais perto deles do que pensavam. Queriam saber a história de Romeu e Julieta até. Desconstrução do que é dado. O seu conhecimento não é o do outro. Aprendizado. É disso que se trata. No fonal um grupo estava se organizando para ir ao teatro!
Sobre o espetáculo:
/montagem inédita de texto de Thelma Guedes recebe direção do encenador inglês Luke Dixon, no Teatro Novo, em São Paulo. O espetáculo fica em cartaz entre 12 de abril e 5 de maio, com apresentações às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h.
Na trama, duas atrizes se encontram em um teatro para uma reunião de elenco, quando são surpreendidas por um temporal. Enquanto esperam pelo diretor e o restante da equipe, deparam-se com as Mulheres de Shakespeare, memórias femininas que perpassam os séculos. E esse encontro faz com que se voltem para si mesmas, revendo e questionando os próprios conflitos.
Peça reúne as personagens femininas de Shakespeare em um mosaico multifacetado e leve, alternando momentos dramáticos com humor, com textos que transitam entre a transgressão, a submissão, a ambição e o amor. Mulheres decididas e autoconfiantes, mulheres submissas, castas, doces, apaixonadas, ousadas, enigmáticas, loucas, santas, trágicas, cômicas, únicas compõem esse painel colorido e cuidadosamente selecionado.
Direcão: Luke Dixon
Texto: Thelma Guedes
Atrizes: Ana Guasque e Suzy Rêgo
Assistente de Direção: Kyra Piscitelli
Direção Musical: Sérvulo Augusto
Cenógrafo: Augusto Vieira
Figurinista: Silvana Carvalho e Assistente
Coordenação de Projeto: Ana Guasque
Assistente de Produção: Isadora Mazon, Malu Guasque
Conteúdo Pedagógico para Formação de Plateias: Kyra Piscitelli
Monitoria de Formação de Plateias: Kyra Piscitelli
Assessoria de Imprensa: Pombo Correio
Contabilidade: Suprema Associados
Assessoria Jurídica: Marise Gomes Siqueira
Idealização e Realização: Ana Guasque Artes & Entretenimentos
Temporada: de 12 de abril a 5 de maio
Às sextas e aos sábados, às 21h; e aos domingos, às 19h
Ingressos: Sextas-feiras – R$40 (inteira) e R$20 (meia-entrada); sábados e domingos – R$60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)
Classificação: 14 anos
Duração: 80 minutos
Bilheteria: terça a quinta, das 14h às 19h; sexta a domingo a partir das 14h. Acessibilidade para cadeirantes. Estacionamento conveniado:
R$ 20. Flat’s Estacionamento – R. Domingos de Morais, 343 (em frente ao teatro). Geh Estacionamento – R. Azevedo de Macedo 48 Vila Mariana
Vendas: www.ingressorapido.com.br
Kyra Piscitelli, para o Aplauso Brasil