Maurício Mellone* (aplauso@gmail.com)
O espetáculo reúne 26 canções do compositor carioca que tão bem t

raduz a alma feminina. Lucinha Lins, Tania Alves e Virgínia Rosa interpretam as mulheres retratadas nas músicas, as que não medem esforços para lutar por seus amores. A direção é de Fernando Cardoso e o show fica até 23 de outubro
SÃO PAULO – O clima é de cabaré, com mesas e cadeiras para os clientes, sofá em forma de divã, uma arara com figurino feminino presa ao teto, sapatos femininos dispostos em toda a extensão do palco e cortinas e muito tule, sendo que o tom predominante é o vermelho. Com os músicos tocando ao vivo, uma a uma as cantoras — vestidas a caráter (figurino provocante de cabaré)—, começam a viver as mulheres retratadas nas canções. Não é um show, não é uma peça teatral, não é balé. É exatamente uma mistura de tudo isso embalado com as canções do mestre Chico Buarque, que como ninguém sabe traduzir a alma das mulheres em suas composições.
Palavra de Mulher reúne Lucinha Lins, Tania Alves e Virgínia Rosa que interpretam 26 canções, acompanhadas por Ogair Junior (piano e acordeon), Marcos Paiva (contrabaixo) e Ramon Montagner (bateria e percussão).
Para iniciar, os músicos executam Ópera do Malandro e em seguida Virgínia Rosa é a primeira a se apresentar bem à frente do palco, no microfone de pedestal. Além de Palavra de Mulher, que dá nome ao espetáculo, ela canta Meu Namorado, de maneira brejeira e delicada.
Tania Alves é a segunda a participar, com um imenso tule negro cobrindo todo o corpo. Canta Funeral do Lavrador, parceria de Chico com o poeta João Cabral, da peça Morte e Vida Severina; com Lucinha e Virgínia em cena e participando como coro, é um dos momentos de emoção e teatralidade extremas!

Quebrando o clima, Tania agradece e cumprimenta a plateia, dizendo que seu ingresso para o mundo fonográfico foi por intermédio de Chico (participou da peça de João Cabral, além de Calabar e Ópera do Malandro).
Com total desenvoltura no palco, Tania canta várias canções, imprimindo desde sensualidade, alegria até a dor máxima com Pedaço de Mim:
“Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar
…Que a saudade é o revés de um parto
saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu”…
Versos de beleza tamanha revelando uma tristeza atroz! Foi difícil conter as lágrimas…
Novamente o clima é quebrado para a entrada de Lucinha Lins, que também já viveu personagens da obra de Chico, como Vitória Régia de Ópera do Malandro e Nancy de O Corsário do Rei. No palco ela vem como madame, proprietária do cabaré: depois de interpretar algumas canções como Tango de Nancy e Tatuagem, ela ordena que as “meninas” trabalhem direito! Virgínia e Tania fazem uma deliciosa cena de platéia, em total descontração.
Com o público interagindo, as cantoras/atrizes continuam a desfilar clássicos do cancioneiro de Chico, como Bastidores, Olhos nos Olhos, Atrás da Porta, Folhetim e Sem Açúcar. Impressionante como as rebuscadas e poéticas letras das canções vivem na memória do público: Virgínia, Tania e Lucinha recebem o acompanhamento do público em todas as músicas!
Saí em estado de graça da sala de espetáculo (diga-se de passagem, uma das mais confortáveis e acolhedoras da cidade). Interpretações tocantes, roteiro muito bem elaborado pelo diretor Fernando Cardoso (que também assina a cenografia e divide a produção com Roberto Monteiro) e uma iluminação sensível e precisa de Wagner Freire.
O figurino (assinado pelas três cantoras e pelo diretor) é outro destaque, graças ao charme e graça dos inúmeros adereços que elas colocam ao interpretar cada canção.
Roteiro:
Palavra de Mulher – As vozes femininas de Chico Buarque. Concepção e direção geral: Fernando Cardoso. Com Lucinha Lins, Tania Alves e Virginia Rosa. Direção musical, arranjos e piano: Ogair Júnior. Contrabaixo acústico: Marcos Paiva. Bateria e percussão : Ramon Montanhaur. Iluminação: Wagner Freire. Cenografia: Fernando Cardoso. Figurinos: Lucinha Lins, Tania Alves, Virgínia Rosa e Fernando Cardoso. Fotos: Ricardo Pimentel.Técnico de som: Kiko Carbone. Direção de produção: Fernando Cardoso e Roberto Monteiro.
Serviço:
Teatro Cleyde Yáconis (288 lugares), Avenida do Café, 277 – Jabaquara – Estação Conceição do metrô. Sábados às 21h e domingos às 18h. Ingressos: inteira R$ 30,00 (meia R$ 15,00). Duração: 85 minutos. Recomendação: 12 anos. Central de informações: 11 5070 7018 . Venda para grupos 11 3334 1358 . Bilheteria – terça a sexta, das 14 às 20 horas – sábados e domingos das 14 até o início do espetáculo. Venda pela internet: www.ingressorapido.com.br e telefone: 11 4003 1212 . Estacionamento no local, Rua Guatapará 170. Temporada: até 23 de outubro.