Nanda Rovere, do Aplauso Brasil (Nanda@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – Através de um espelho é uma adaptação para o teatro do longa-metragem homônimo de Ingmar Bergman, de 1961, que conta a história de uma família que não consegue estabelecer um contato frequente, apesar do afeto. Uma montagem que chama a atenção pela sutileza com que trata temas profundos como amor, loucura e a fraqueza humana diante dos obstáculos que a vida impõe. No palco, os atores Gabriela Duarte, Nelson Baskerville, Marcos Suchara e Lucas Lentini interpretam, com competência, a trajetória de uma família desestruturada que tenta “juntar os cacos“ de um convívio pautado por uma uma série de situações de desequilíbrio emocional e sofrimento. O espetáculo cumpre temporada no Sesc Consolação até 4 de outubro e reestreia no Tucarena, sexta,18, às 21h30. A direção é do renomado Ulysses Cruz.
Após uma temporada em um hospital psiquiátrico, Karin (Gabriela Duarte), seu pai David (Nelson Baskerville), seu marido Martin (Marcos Suchara) e seu irmão Max (Lucas Lentini) se encontram para um período de férias numa antiga casa situada numa ilha. O objetivo é rever as relações num lugar em que a família passava as férias na infância.

David é um escritor de sucesso, mas sofre duras críticas do filho e do genro. Por isso, ele se afasta e isso contribui para que Karin, que já possui uma estrutura emocional muito frágil, tenha um comportamento instável e entre facilmente em depressão.
Num primeiro momento, parece que o encontro será positivo, mas aos poucos os personagens vão revelando as suas fraquezas e as desavenças acontecem. Não conseguem se comunicar. A carência afetiva é evidente e todos estão perdidos ¨numa ilha¨ de incompreensão e solidão.
As emoções estão à flor da pele e a tensão atinge o ápice quando Max mostra ao pai o texto teatral que acabara de criar e este não lhe dá atenção. Além disso, Karin começa a dar sinais de que não está bem, com alucinações que a deixam sem força.
Karin está muito doente, o seu distúrbio psicológico não tem cura (tem a mesma doença que acometeu sua mãe). Precisa de muito carinho e atenção, mas ninguém consegue ajudá-la, nem mesmo o seu marido. Ele a ama, mas não sabe como demonstrar afeto pela esposa e nem como evitar que ela tenha os frequentes surtos bipolares.
Todos têm medo de enfrentar a dura realidade. Karin vive numa ponte entre a vida real e o delírio. O clima fica cada vez mais pesado e a instabilidade emocional de Karin atinge níveis incontroláveis.
Como recuperar os laços familiares se a autoestima de todos é muito baixa? Como estabelecer um cotidiano amistoso e harmônico quando há ausência de tolerância e compreensão?
Na casa, os móveis estão amontoados e cobertos. A iluminação sugere um lugar sem cor, sem vida e os delírios de Karin acontecem num feixe de luz; ela está no limite entre atravessar ou não o espelho que separa a lucidez da paranóia. A trilha contribui para dar mais força dramática às cenas. O chão está coberto de neve, sugerindo que os personagens estão com a alma dilacerada.
A precisa direção de Ulysses Cruz permite que os atores tracem com perfeição o perfil psicológico dos personagens. Gabriela Duarte se entrega de corpo e alma às nuances de uma mulher de grande sensibilidade, mas que devido à esquizofrenia não consegue controlar os seus atos e sentimentos. Os gestos da atriz estão mais contidos e a sua interpretação tem uma densidade que demonstra um grande salto como profissional, deixando de lado os personagens leves e partindo para trabalhos mais complexos.
Marcos Suchara também consegue transmitir o quanto Martin ama a sua mulher e se sente impotente porque não pode fazer nada para curá-la.
Lucas Lentini tem a missão de traçar a trajetória de um garoto que precisa da atenção do pai para conseguir dar um rumo à sua vida. Nelson Baskerville é um ator de grande experiência, que dá um show em cena. Baskerville constrói com precisão a figura do pai que está amargurado porque não consegue escrever com criatividade e tem dificuldade para demonstrar o amor que sente pelos filhos.
Ficha Técnica
Texto: Ingmar Bergman
Versão Teatral: Jenny Worton
Tradução: Yara Nagel
Adaptação: Marcos Daud
Dramaturgia: Valderez Cardoso Gomes
Direção: Ulysses Cruz
Diretor Assistente: Leonardo Bertholini
Diretor de Movimento: Leonardo Bertholini
Elenco: Gabriela Duarte, Nelson Baskerville, Marcos Suchara e Lucas Lentini
Preparação vocal: Renata Ferrari
Cenografia: Lu Bueno
Designer de Luz: Domingos Quintiliano
Figurinos: Cassio Brasil
Trilha Original: Daniel Maia
Fotos estúdio: Jairo Goldflus
Fotos de cena: João Caldas
Make e Hair:Lab.DudaMolinos
Projeto Gráfico: Estação design
Administração Geral:Ricca Produções
Produção Executiva: Carmem Oliveira
Direção de Produção: Giuliano Ricca
Produtores Associados: Gabriela Duarte / Giuliano Ricca
Produção:Ricca e Plateia Produções
Realização: SESC
Serviço
Através de um Espelho
TEATRO ANCHIETA – Sesc Consolação (280 lugares)
Rua Doutor Vila Nova, 245 – Vila Buarque
Bilheteria: 3234.3000
Ingressos à venda pela Rede INGRESSO SESC (unidades do Sesc) e pelo Portal Sesc SP www.sescsp.org.br
Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 18h
Ingressos: R$ 30
R$ 15 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino).
R$ 6 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Duração: 75 minutos
Classificação: 12 anos
Até 04 de outubro
Depois entra em cartaz no TUCARENA
Estreia dia 18 de Outubro a 30 de Novembro
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira)
Perdizes – São Paulo – Fone: (11) 3670-8455/ 3670-8454
Sextas 21h30 / Sábado 21h00 / Domingo 19h30
Ingressos: Sexta R$ 50 / Sábado R$ 70 / Domingo R$ 70
Venda de Ingressos: bilheteria do Tuca (terça a sábado 14h às 19h / domingo 14h às 18h) ou www.ingressorapido.com.br / 4003-1212
Estacionamento conveniado: R$ 14 (Rua Monte Alegre, 835/ mediante apresentação do ingresso do espetáculo)
ValetEstapar: R$ 20,00 (somente sábados e domingos)