Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – A cerimônia de entrega da 2ª edição do Prêmio Aplauso Brasil promoveu um encontro histórico para o teatro brasileiro. No dia 14 de abril de 2014,pela primeira vez junto no mesm palco, os encenadores paulistas Antunes Filho, do Grupo Macunaíma/ Centro de Pesquisa Teatral (CPT), e José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, do Teatro Oficina Uzyna Uzona, que, segundo o editor do Aplauso Brasil, Michel Fernandes, são “polos opostos e complementares que trouxeram superioridade ao teatro brasileiro”, subiram ao palco do Theatro São Pedro para receberem o troféu Homenagem Especial das mãos da apresentadora da premiação, a atriz Bárbara Paz, e a anfitriã da categoria, a atriz Luiza Lemmertz.
É raro Antunes aparecer no palco ou até mesmo vê-lo em estreias das suas próprias direções. Tê-lo no prêmio foi muito especial, ainda mais por que o pessoal do CPT estava viajando à trabalho e ele ficou só em São Paulo.
Zé Celso também não sai por qualquer coisa não. É seletivo e como sempre não desperdiça quando lhe dão um microfone na mão. Tem e muito a falar e a ensinar.
Outra curiosidade é que Bárbara Paz revelou a Zé Celso, no palco do prêmio, que estava com pneumonia e mesmo queimando em febre estava lá. “O teatro é vivo, Zé! O Teatro recupera a gente!”, disse emocionada atriz.
A história do teatro anda com esses dois grandes mestres ( sim, essa palavra vai aparecer repetidas vezes no texto). Eles marcaram e, graças aos deuses do teatro, ainda marcam a história da cidade e do Brasil.
Na homenagem foram lembradas duas montagens importantes dos dois: O Rei da Vela, montagem dirigida por José Celso Martinez Corrêa, e Macunaíma, de 1978, dirigida por Antunes Filho.
Luiza Lemmertz, que foi entregar a homenagem aos dois, fez um discurso bonito e carinhoso, para um momento que considera único na carreira:
“Eu estou muito honrada de entregar esse prêmio para esses dois homens que fazem parte da minha vida. Eu trabalhei com os dois e hoje eu me sinto aqui entregando a eles em nome de todas as gerações de atores e artistas que trabalharam com eles, e em nome de todas as gerações de pessoas que puderam assistir as suas obras de arte.”

Já no palco, Antunes pegou o microfone e Zé Celso junto. Abraçados, o diretor do CPT disse: “Obrigado, Obrigado!!! E o fundamental para mim é que estamos juntos”. Depois, brincou com Zé e saiu logo do palco.
Zé Celso, então, atendendo a um pedido de Bárbara cantou: “Paz, amor e paz e muito mais…e humor, amor….”
E logo em seguida, ao seu melhor estilo, desandou a dizer sobre o que pensa do teatro.
Diz que se sente feliz em estar lá: “fazendo ligações” com novas pessoas, artistas. E que o Oficina vive um momento difícil. “Nós estamos passando por um momento dificílimo, estamos com o caixa ZERO e 60 pessoas trabalhando”. E destila: “a gente tem que trabalhar tanto hoje para conseguir sobreviver, mas sobreviver não basta porque tem que ir mais longe, tem que SUPERviver e a arte é uma coisa “transhumana”, exige um esforço fora do comum”.
Zé também critica a crítica que não vai ver seus espetáculos. Superlativo, ele não economiza nas palavras e chama o brasileiro para a sua cultura, a valorizar e se ligar por meio da arte: nós (Oficina) estamos fazendo musical e pretendemos comer o musical americano. Musical brasileiro é muito mais interessante. Ainda mais que a gente traz em cena rituais indígenas, rituais africanos … música pop, música brasileira”.
Então, chama o Michel para fazer uma pergunta: “Por que a crítica não vai ver os espetáculos do Oficina? E Michel não só responde que vai como recomenda: “Por que a crítica não vai ver os espetáculos do Oficina? Eu vou”! Para mim são os que mais me ensinam e são os mais completos. Todo mundo que gosta realmente de teatro tem que assistir o CPT e o Oficina.”
E Zé emenda: “Tem uma coisa importante que eu e o Antunes fazemos: a gente trabalha com essa geração (aponta para a plateia jovem). A maioria são jovens”. Então, aproveita para alfinetar a crítica de novo: “Homenagem não quer dizer nada. Homenagem é uma homenagem. É muitas vezes uma coisa que você agradece e tudo mais, mas não adianta nada se não vê o trabalho atual que estamos fazendo….”, diz convocando todos.
Zé termina sua fala criticando o fato de não ter espaço para o teatro na Copa: “O poder tem inveja do teatro! Por isso que nessa Copa não vai acontecer nada, só vai ter Copa, por que o teatro é uma força muito grande e acho que a gente deve praticar isso juntos. O nosso Brasil depende muito do teatro, nós do teatro temos muito para dar, o teatro realmente tem um poder muito forte”, afirma com voz forte.
Avisa a todos que ele está “grávido” e feliz de estar com 77 anos produzindo como quando começou aos 20.
Esse é o Zé Celso. Mais contido é o Antunes. Isso é histórico, é história, é teatro!
Evoé!
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