Redação do Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – A montagem de Josefina Conta é livremente inspirada no conto Josefina, a Cantora – ou o Povo dos Ratos, de Franz Kafka. Na obra de Kafka, recheada de humor, ironia e com uma linguagem que beira a antropofagia, a personagem central é uma velha cantora que inebriava a população, mas ao contrário de ser belo, o seu canto era um chiado inexpressivo. Com texto e direção de Elzemann Neves, no palco estão os atores Germano Melo, Inês Aranha e Bia Toledo. A estreia será nesta sexta (16), às 21h30, na Sala Experimental do Teatro Augusta.

O fascínio que a cantora Josefina exerce nas pessoas é tão intrigante que a sua fama atravessou os séculos. Com receio de ser esquecida, ela recebe a ajuda de sua criada e de um representante da mídia para que a sua imagem e o seu canto sejam sempre revigorados e valorizados.
As três personagens do texto foram construídas de forma alegórica, sem a construção de um perfil psicológico linear. O que importa é espaço que esses seres representam: o poder, o povo e a mídia.

A relação humana é promíscua e de dependência. Segundo Elzemann, todos são corruptos e corruptores. ¨Essa dimensão política do texto remete à formação da nossa cultura e na forma como nos relacionamos política e culturalmente”, assinala.
A trama é uma alegoria à ascensão do nazi-fascismo no período anterior à Segunda Guerra. Assim como o povo se encantava por Josefina , que era capaz de conduzir uma multidão, o totalitarismo conseguiu inúmeros defensores e controlou violentamente o modo de pensar e agir das pessoas.
O dramaturgo e diretor Elzemann Neves se encantou pelo conto de Kafka e pela universalidade da obra: “Quando voltei ao texto, pude compreender melhor a força de Josefina, a universalidade desse canto vazio, agudo e estridente que é capaz de conduzir uma multidão em direção ao horror do totalitarismo, afirma.
¨Adaptá-lo à realidade brasileira parece um ato muito natural quando pensamos que a nossa história foi registrada sempre por várias mãos: mãos estrangeiras e nacionais, mãos que escreveram aquilo que consta dos livros, e mãos de quem viveu e testemunhou os eventos. Muitas mãos impondo a força de suas versões e definindo os eleitos que ficaram – e ficarão – em nossa memória política e social. Essa é a leitura que me instigou a escrever e dirigir esse texto”, completa Elzemann.
Elzemann também acredita que poder e imagem estão diretamente relacionados, assim como suas eternas plateias. “O momento político atual do país é muito rico, a grande polarização que ficou evidente nas últimas eleições demonstra a vontade do povo em debater essa política, mas não é disso que tratamos aqui, pelo contrário. A peça se preocupa em lançar um olhar sobre a distribuição dos papeis que assumimos dentro da sociedade, hoje ou há 500 anos, e não sobre os eventos políticos atuais”, opina.
Ficha Técnica
Texto e Direção: Elzemann Neves
Assistência de direção e
Preparação de elenco: Alexandra da Matta
Elenco: Inês Aranha
Bia Toledo
Germano Melo
Cenário e Figurino: Chris Aizner
Desenho de luz: Carmine DʼAmore
Fotografia: João Valério
Arte gráfica: Adriana Alves
Produção executiva: Mariela Lamberti e Yvone Delpoio
Serviço
Temporada: De 16 de janeiro de 2015 a 29 de março de 2015, no Teatro
Augusta – Sala Experimental.
Sex. 21h30; Sáb. 21h00; Dom. 19h00.
Ingresso: R$ 30,00
Gênero: Comédia
Duração: 70 mim.
35 lugares.
Classificação Indicativa: 14 anos