Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

O público já aderiu a essa nova onda, mas a intelectualidade monitoradora do movimento teatral, ainda não. Porque esta, em parte, ainda não conseguiu se livrar de arraigado preconceito quando o assunto é a chegada de um novo musical em nossos palcos. Sentenciam: “não é arte, é só entretenimento”. Será que não podem ser ambas as coisas?
O caso deste Zorro, o Musical, que não é necessariamente brilhante, mas sempre vibrante, é típico. Poucos ( críticos) se aventuraram em conferir essa montagem, lançada em 2008, em Londres, e que já foi encenada sucessivamente em Paris e na Alemanha, Holanda, Itália, Japão, Coréia( do Sul?) e Rússia. Agora chegou ao Brasil.
Então, é no mínimo curiosa essa suposta rejeição ao Zorro produzido no Rio de Janeiro, com produtores arrojados e bem escorados (ao que se pode deduzir da leitura do site da montagem) por uma nova empresa de eventos e promoções, entrando no mundo teatral. E a equipe toda (técnica e artística) é composta por gente gabaritada por passagens em marcantes musicais do Rio e daqui mesmo. Repetimos, pode não acontecer aqui a magia que faz do fenômeno teatral algo inesquecível, mas a interação com a platéia é permanente. Porque baseado em um sentimento universal: o da rejeição do ser humano à força bruta das ditaduras.
Por isso mesmo, nos seriados de antigamente, no cinema, Zorro já era um ídolo da criançada. Com o tempo, ultrapassou o limite da tela branca, agitando a imaginação das gerações televisivas e das várias versões recentes no cinema.
Por que devemos valorizar o Zorro em cartaz:
Trata-se de uma adaptação que busca ( e consegue) ser fiel à concepção dos mitos justiceiros que habitam as histórias em quadrinhos. Isabel Allende, autora do romance em que se baseou o norte-americano Stephen Clark para a montagem teatral, como sobrinha do presidente chileno Salvador Allende assassinado por bombardeio ao palácio presidencial, não precisou da própria e dolorida lembrança para compreender os motivos e enaltecer o caráter desse herói varonil. Ponto para ambos, escritora e adaptador.
Os diversos momentos de esgrima, assim como as lutas, são executados com leveza e raro domínio corporal, dignas de aplauso. Ainda como ponto alto das cenas de ação, o herói vindo do fundo da platéia e atravessando-a em cabo de aço, açoda, com razão, a torcida, que aplaude tanto o personagem do Zorro como seu intérprete (Jarbas Homem de Melo).

A direção cênica de Roberto Lage, de larga experiência e comprovada eficiência nos mais diversos gêneros, se faz sentir em todo o elenco de dançarinos-cantores-atores, com pleno domínio do distanciamento brechtiano na cena final entre os irmãos inimigos (Ramon, vivido pelo excelente Luiz Araujo e Diego, o Zorro, na pele do competente Jarbas Homem de Melo, carecendo talvez do total carisma do quase secular herói).
Na ala feminina o destaque fica para Naima (só assim), que faz o amor impossível do covarde Sargento Garcia (um impagável Gerson Steves).
O canto, de vozes firmes, é bem conduzido pelo regente Thiago Gimenes. E a dança flamenca é vigorosa, como se deve esperar dela.
Pode-se argumentar, com certa razão, que o espetáculo começa e assume ares de show, pelos sucessivos números musicais atravancando o enredo. Felizmente, a narrativa de Isabel Allende predomina, com seu cunho socialista e reivindicatório, tranqüilizando a heterogênea platéia quanto ao futuro da humanidade, pela reação indignada diante dos algozes do justiceiro Zorro, com quem muitos cresceram e amadureceram.
Serviço:
Zorro – O Musical / Teatro das Artes, shopping Eldorado, 3. Piso / Av. Rebouças, 3970 / telefone 4003-2330 / 742 lugares / sexta e sábado 21h – domingo 19h /150 minutos / Livre /de R$ 60, a R$ 140/ há preço promocional, informe-se/ até 24-10