
SÃO PAULO – Em sua leitura minimalista de O Jardim das Cerejeiras, do russo Anton Tchekhov, o diretor Eduardo Tolentino de Araújo faz, em sua versão comemorativa dos 40 anos do Grupo TAPA, uma análise interessante e absolutamente atual das classes sociais. Se por um lado temos uma aristocracia decadente que ostenta e nada produz; acostumada a ser servida por seus empregados (é importante recordar que havia poucos anos em que a escravidão deixara de existir); um ex-servo que, mesmo livre, insiste em ser subjugado etc., do outro temos um filho e neto de escravos agora um burguês em ascensão que arremata a propriedade de Liuba (em que seus antepassados eram servos) e decide transforma-la em loteamento para casas de veraneio.
O Jardim das Cerejeiras de Tolentino não se ocupa em apresentar conflitos entre classes sociais diretamente: o efeito causado pela encenação é revelar as idiossincrasias das classes sem julga-las. Cada espectador fica à vontade para escolher qual partido irá tomar: o de Liuba (símbolo da aristocrata decadente), o de Lopakhin (o burguês em ascensão), o de Firs (o serviçal insistente na divisão antiga entre patrão e empregado), ou mesmo os apartidários que criticam o tratamento oferecido à criadagem.
Claro está que os efeitos conseguidos pela montagem do Grupo TAPA devem muito à coesão do elenco, todos, sem exceção, muito bem preparados e repletos de fé cênica. Entretanto, é possível destacar alguns desempenhos como o de Clara Carvalho (Liuba), Sérgio Mastropasqua (Lopakhin), Anna Cecília Junqueira (Vária) e Guilherme Sant’Anna (Firs).
Enfim, começamos o ano com uma excelente montagem, que o nosso teatro continue resistindo, mesmo sem o amparo do Ministério da Cultura.
Ficha técnica:
Texto: Anton Tchekhov. Direção: Eduardo Tolentino de Araujo. Elenco: Adriano Bedin, Alan Foster, Alexandre Martins, Anna Cecília Junqueira, Brian Penido Ross, Clara Carvalho, Gabriela Westphal, Guilherme Sant’Anna, Mariana Muniz, Natália Beukers, Paulo Marcos, Riba Carlovich, Sergio Mastropasqua e Zécarlos Machado. Figurinos: Rosângela Ribeiro. Iluminação: Nelson Ferreira. Designer Gráfico: Mau Machado. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli. Fotos: Ronaldo Gutierrez. Produção Executiva: Ariel Cannal.
Serviço:
O JARDIM DAS CEREJEIRAS – Estreia 10 de janeiro de 2019.
Temporada: 10 de janeiro a 25 de fevereiro. Quintas, sextas e sábados às 20h30. Domingo às 19h.
Ingressos: Quinta e sexta: R$30,00. Sábado e domingo: R$60,00.
TEATRO ALIANÇA FRANCESA – Rua General Jardim 182 – Vila Buarque.
Final do século 19, início do século 20: a opulência da classe aristocrática russa naufraga em sua nau de ostentação, deixando aos servos que se preocupem em produzir para os sustentar. Esse ambiente em que está inserida a família de Liuba em O Jardim das Cerejeiras, clássico de Anton Tchekhov, serve como eixo de discussões sobre nosso Brasil atual, em que a classe média alta, preocupada em manter seu status,