SÃO PAULO – Em tempos de pirotecnias tecnológicas no teatro, a peça Aproximando-se de A Fera na Selva, em cartaz na Sala Porão, do Centro Cultural de São Paulo, é respiro cheio de beleza, calcado na palavra e na imaginação. Com os personagens John Marcher e May Bartran; as biografias dos escritores Henry James e Constance Fenimore Woolson, o espetáculo tem muito a nos ensinar sobre encontros, desencontros, solidão e sinceridade. Longe de ser piegas, trabalha a emoção em dose certa, com a limpeza de quase nada em cena e sem grandes efeitos.
Aproximando-se de A Fera na Selva é desses teatros que poderia ser feito em qualquer lugar, espaço, só não com qualquer elenco. As parceiras, Marina Corazza (dramaturgia) e Malú Bazán (direção), sabem lidar bem com a máxima menos é mais. Em primeiro lugar, o texto de Malú, que traz os dois escritores e a obra Fera, de 1903, escrita por Henry James quase dez anos após a morte da sua grande amiga Constance, é poesia cuidadosa. Traz imagens do que foi essa amizade, do que não foi e das possibilidades.
Possibilidades, aliás, é a chave que interliga a dramaturgia e a direção. Nada ali é dado. Assim, vemos as nossas vidas, escolhas e palavras naqueles dois personagens. As relações humanas, retratadas em cena, faz questionar história, machismo, convenções sociais, amor, dor, doença, a palavra dita e a não dita e a amizade. Questões que na mesma medida são universais e atemporais.
A direção de Malú acompanha as imagens dada pela dramaturgia, respeita e trata a palavra com carinho raro. Uma cortina é capaz de servir de diferentes cenários pela Itália, assim como uma saia – com mais de duas faces, expressa o humor e o momento da personagem com leveza.
Os atores Gabriel Miziara e Helô Cintra mostram sintonia na pele de dois personagens tão próximos de nós. Falam a todo momento com a plateia, se entreolham e movimentam a cena e seus figurinos com propriedade. Ora interpretes, ora narradores dos próprios personagens, as visões de fora e de dentro daquela amizade é passada ao público com mais questões do que respostas. Por que não falamos o que sentimos e pensamos? Existe amizade entre homem e mulher? A que medo estamos permitidos socialmente de viver? Como a solidão nos atinge?
E é nessas perguntas que o mérito de Aproximando-se de A Fera na Selva se faz. Dois personagens notáveis de uma época ganham feições popularmente humanas e próximas de todos e é no possível desconhecido deles – naquilo que é privado – que o público tem a chance de se ver e se questionar também. Um misto de realidade com ficções que encantam no detalhe da palavra cuidadosamente falada. É teatro despretensiosamente genuíno e gratuito.
Sinopse:
A peça aborda a relação de amizade entre os escritores Henry James e Constance Fenimore Woolson, a partir da investigação de suas biografias e da novela “A Fera na Selva” de Henry James, em que um homem espera pelo grande acontecimento de sua vida. Dois atores transitam entre as personagens reais e as personagens fictícias criadas pelos escritores, lançando um olhar particular sobre suas relações.
Serviço
Centro Cultural São Paulo
Estreia 2 de fevereiro
Temporada: Quinta, sexta e sábado às 21h. Domingo às 20h.
Lotação: 45 lugares
Duração: 60 minutos
Até: 11 de março
Grátis. Ingressos retirados 1 hora antes nas bilheterias do CCSP (não há reserva online).
Ficha Técnica:
Texto: Marina Corazza
Direção: Malú Bazán
Assistência de direção: Carolina Fabri
Elenco: Gabriel Miziara e Helô Cintra
Cenário: Malú Bazán e Renato Caldas
Figurino: Mareu Nitzchke
Música original: Daniel Maia
Realização: Canto Produções e MeiMundo
Assessoria de imprensa: Douglas Picchetti
Kyra Piscitelli, do Aplauso brasil (kyra@aplausobrasil.com.br)