Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (Michel@aplausobrasil.com)

CURITIBA – Um mês após assistir a última sessão de A Máquina Infernal, primeira montagem brasileira do texto escrito pelo francês Jean Cocteau, sob direção do italiano, radicado no Brasil, Roberto Innocente, reverbera em mim o foco de discussões que se fazem presentes nesse texto: a arrogância e a ingratidão pelos que detém o poder.
Com base no mito de Édipo, embora Sófocles tenha utilizado a mesma matriz para escrever Édipo Rei, Cocteau segue outros caminhos, dando luz à episódios que são apenas narrados pelo coro da tragédia grega. Escrita em 1934, ou seja, num período em que a Europa sofria as consequências da Primeira Guerra Mundial, em que governos absolutistas, sobretudo o fascismo italiano e o nazismo alemão, desenhavam a estrada para a iminente Segunda Guerra Mundial (1939-1945), A Máquina Infernal assume ares proféticos ao colocar Tebas em situação calamitosa, onde se falta inclusive o que comer, devido a arrogância de Édipo (interpretado por João Graf) que, exclusivamente preocupado em ter o poder e ser conclamado Rei de Tebas, esquece de ser grato à Esfinge (Joseane Berenda) que lhe ensinou a decifrar o enigma , salvar sua vida e conquistar a coroa, além de casar-se com a rainha.
O coro grego, aqui, ganha traços épico-narrativos dando resumos dos acontecimentos, além de comentá-los. Rosana Stavis e Gerson Delliano dão vida à Atriz e ao Ator, os narradores, além de interpretarem outros papeis.

Diferente do que comumente imaginamos de Tirésias, personagem interpretado por Stavis, o ancião cego que tem o dom da clarividência, é mostrado como confidente de Jocasta (Ludmilla Nascarella), como uma ama, o que pode frustrar nossas expectativas, mas vencido esse atrito entre o que nos mostra a cena e o que dormia em nossa imaginação, podemos averiguar a riqueza de possibilidades em se abordar um mesmo personagem.
Acertos na direção, como a utilização dos diversos níveis que compõe a belíssima cenografia, assinada por Innocente, não ecoam na tradução do diretor. Por ser italiano, mesmo que fale português, algumas palavras traduzidas não se enquadram no significado que desejam atingir. A solução, talvez, seria substituir algumas palavras e sentenças por um sinônimo.
A luz de Rodrigo Ziolkowski dialoga muito bem com a estrutura cenográfica, cria nichos expressivos como na cena final e dispensa as alegorias que representam a pedra da Esfinge e o quarto do casal protagonista, Édipo e Jocasta.
Como os urdimentos do Guairinham tiveram que dar espaço à estrutura cenográfica, a projeção vocal ficou um tanto comprometida, mas o trabalho corporal – destaque para o Anúbis de Marvehem HD, a Matrona de Rosana Stavis, o Édipo de João Graf e a Esfinge de Josane Berenda – direcionado por Roberto Innocente, dá mais substância à montagem.
Por fim, dirijo meus mais sinceros aplausos à bem cuidada produção do espetáculo, pois sabemos quão difícil produzir teatro, e à Versátil Andaimes que deu à luz a magnifica cenografia.
A MAQUINA INFERNAL
Texto de Jean Cocteau
Tradução e Adaptação – Roberto Innocente
Produção – Thadeu Peronne
Direção – Roberto Innocente
Elenco:
JOÃO GRAF – Édipo – Soldado Jovem
LUDMILA NASCARELLA – Jocasta (esta Atriz será substituída)
ROSANA STAVIS – Tirésias – Matrona – Atriz
GERSON DELLIANO – Ator – Creonte – Bêbado – Chefe das guardas
MARVEHEM HD – Soldado – Anúbis – Pastor
JOSEANE BERENDA – Esfinge – Mensageiro
Figurino – Paulinho Maia
Sonoplastia – César Sarti
Iluminação – Rodrigo Ziolkowski
Cenário – Roberto Innocente
Confecção de cenário – Equipe Versátil Andaimes – Ricardo dos Santos
Ilustração – Màrcia Széliga
Projeto Gráfico – Ana Camargo Design
Assessoria de imprensa – Flamma Cominicação
Fotos – Chigo Nogueira
Referencias Gregas – Aimilia Koulogeorgiou