Michel Fernandes*, do Aplauso Brasil (Michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – A magistral carpintaria dramatúrgica que o norte-americano David Ives utiliza para tecer Vênus em Visom, cuja montagem dirigida por Hector Babenco está em cartaz no Teatro Vivo, tem pleno êxito, sobretudo, graças à visceral interpretação da atriz Bárbara Paz que domina, como poucos, o sofisticado jogo entre ser e representar.
Uma chuva torrencial, trovões apocalípticos, apoiados pela sonoplastia a enfatizar a tempestade e a belíssima cenografia de Bia Junqueira, com toques naturalistas, apresentam Thomas (André Garolli em concepção vigorosa) que, após realizar dezenas de testes em busca da atriz perfeita para protagonizar uma peça com texto e direção seus, espera acalmar o temporal para ir para casa.
Consternado, Thomas acredita que jamais encontrará uma atriz capaz de interpretar o papel, cuja fonte é retirada do romance Vênus das Peles (1870), do austríaco Sacher- Masoch, mas eis que surge a tresloucada Vanda (Bárbara Paz), jovem atriz que implora, ao contrafeito Thomas, a chance de fazer um teste.
Visivelmente ele não acredita em seu potencial e concede à atriz apenas a leitura de três páginas da peça.

Mas, o talento de Vanda acaba por seduzir o diretor que esquece das três páginas combinadas e se entrega ao eletrizante jogo de composição do texto a ser encenado, contracenando, ele próprio, com Vanda, no papel do submisso “escravo” Severin do livro de Masoch que, mesmo a seu contragosto, viu seu nome adjetivar-se, masoquismo, e conotar o desvio sexual em que o prazer erótico está vinculado à submissão de uma das partes envolvidas, eixo fundamental da obra do austríaco que, ao lado de Marquês de Sade, Henry Miller, Anais Nïn, entre outros, é dos principais nomes da literatura erótica.
Hector Babenco concebe um jogo complexo e sofisticado que só se completa com a voltagem exuberante com que Bárbara Paz se entrega ao papel. Além da visceralidade da atriz, a destreza empregada entre ser e representar, ou seja, quando é Vanda, a jovem atriz, e quando representa o papel da peça, surpreende pela sutileza e organicidade com que desfila pelos dois eixos propostos por David Ives.
O talento peculiar do ator André Garolli é crucial para a excelente engrenagem que move Vênus em Visom: a promoção vibrante do que pode ser e o que o espectador, e apenas ele, decide o que é.
Ficha Técnica:
Texto: David Ives
Tradução: Daniele Ávila Small
Direção: Hector Babenco
Elenco: Bárbara Paz e André Garolli
Direção de Produção: Cinthya Graber e José Carlos Furtado Filho
Cenário: Bia Junqueira
Figurino: Antônio Medeiros
Iluminação: Paulo César Medeiros
Projeto de som: Andrea Zeni
Relações Públicas/ Convidados: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Assessoria de imprensa: Liège Monteiro e Luiz Fernando Coutinho
Uma produção: Cinthya Graber e José Carlos Furtado Filho
Serviço
Vênus em Visom
Local: Teatro Vivo
Endereço: Av. Chucri Zaidan, nº 860, Morumbi, São Paulo
Telefone do teatro: (11) 97420-1520
Horário de atendimento: 3ª a 5ª feira das 14h às 20h/ 6ª a domingo das 14h até o início do espetáculo
Dias e horários: Sexta às 21h30/ Sábado às 21h/ Domingo às 18h
Serviço de valet
Ingressos: sexta e domingo – R$ 50
Sábado – R$ 60
Classificação etária: 14 anos
Duração: 90 min
Capacidade de público por sessão: 290 pessoas
Temporada: de 28 de março a 08 de junho de 2014