SÃO PAULO – Começo essa crítica, a primeira desde que completei 18 anos como crítico teatral, com a consciência de que este ofício trata apenas de uma leitura da obra em questão e que diferentes pontos de vista sobre a mesma é índice de que a montagem atingiu a tão desejada polifonia. Falar sobre Um Bonde Chamado Desejo, dirigido e adaptado por Rafael Gomes, e ressaltar a estética concisa que a encenação impõem com originalidade, ou a cenografia multifuncional, ou a harmonia do elenco, ou mesmo falar da fragilidade vítrea de Maria Luísa Mendonça contrapondo-se à virilidade pulsante de Eduardo Moscovis em suas composições de Blanche Dubois e Stanley Kowalski respectivamente, seria insistir em notas dantes tocadas em outras análises do espetáculo, cuja nova temporada no Tucarena vai até a próxima semana.
Sem desprezar ou contradizer as qualidades apontadas sobre esta pungente montagem, quero somar aos olhares dirigidos à Um Bonde Chamado Desejo um que se propõe aproximar a crítica desejada por Tennessee Williams, autor da peça, que, no final da década de 1940 se debruçou à discussão de, entre outros assuntos, à duas classes sociais distintas e em conflito: a representada por Blanche Dubois, uma decadente alta burguesia, ao mesmo tempo, afetada e decadente; e a proletária, que vive sem luxos nem é refém de etiquetas sociais, representada por Stanley.
O confronto entre os dois pontos de vista tão opostos só é harmonizado por Stella Kowalski (vivido com perfeição harmônica por Virgínia Bukowski), irmã de Blanche, portanto criada nas regras sociais rigorosas dos Dubois, e, mesmo assim, é capaz de conviver com as diferenças.
Você deve estar se perguntando onde está(ão) o(s) “vampiro(s) do neoliberalismo”? Assim como a Escola de Samba Acadêmicos do Tuiuti colocou o excelentíssimo Presidente da República, Michel Temer, numa alegoria de “vampiro do neoliberalismo” como que representando o que uma elite dominante suga o sangue, as energias, do proletariado, sua liberdade enfim, podemos traçar um paralelo com a afetação de Blanche, uma espécie de elite decadente, sustentando uma arrogância que deseja humilhar o que, segundo sua própria concepção, é uma classe inferior, rústica, bárbara.
Uma diferença, no entanto, entre a realidade dramática de Um Bonde Chamado Desejo e o drama real dos brasileiros é que enquanto o operário da peça, Kowalski (cuja concepção de Eduardo Moscovis sublinha o misto de virilidade, quase violenta, à perplexidade daquele que é humilhado por algo que não mais existe), não se submete à tentativa de Blanche (o magnetismo empregado pela atriz Maria Luísa Mendonça faz saltar por todos os seus poros os sentidos de quem flutua na realidade e habita qualquer outra dimensão) em subjugá-lo, libertando assim as barreiras sociais, mesmo com a mais machista das armas: o estupro que estraçalha qualquer conexão que Blanche tinha com o mundo real. Já a sociedade brasileira esboçou sua tentativa de igualdade com a elite que se considera superior, mas, por conta de um Golpe, continua vampirizada pelos “neoliberalistas”.
Ficha Técnica
Texto: Tennessee Williams
Tradução e Direção: Rafael Gomes
Elenco: Maria Luisa Mendonça, Eduardo Moscovis, Virgínia Buckowski, Donizeti Mazonas, Fabricio Licursi, Nana Yazbek e Davi Novaes
Cenário: André Cortez
Iluminação: Wagner Antonio
Figurino: Fause Haten
Seleção Musical: Rafael Gomes
Assistente de direção: Nana Yazbek
Assessoria de Imprensa SP: Daniela Bustos, Beth Gallo e Thais Peres – Morente Forte Comunicações
Assessoria de imprensa RJ: Barata Comunicação
Projeto Gráfico: Laura Del Rey
Fotos de Estúdio: Pedro Bonacina e Renata Terepins
Fotos de Cena: João Caldas
Administração: Magali Morente Lopes
Produção Executiva: Martha Lozano
Coordenação de Projetos: Egberto Simões
Produtoras: Selma Morente e Célia Forte
Realização: Ministério da Cultura, Morente Forte Produções Teatrais, Empório de Teatro Sortido
Apoio Cultural: Seguros Unimed
Serviço
UM BONDE CHAMADO DESEJO
TEATRO TUCARENA (300 lugares)
Rua Monte Alegre, 1024 (entrada pela Rua Bartira) – Perdizes
Informações: 3670.8455 / 8454
Bilheteria: de terça a sábado, das 14h às 19h. Estacionamento conveniado: R$ 14 (Rua Monte Alegre, 835/ mediante apresentação do ingresso do espetáculo). Valet Estapar: R$ 25 (somente sábados e domingos)
Vendas: 4003.1212 e www.ingressorapido.com.br
Sexta e Sábado às 21h | Domingo às 18h
Ingressos:
R$ 80
Duração: 110 minutos
Classificação: 14 anos
Gênero: Drama
Estreou dia 05 de Junho de 2015 em São Paulo
Reestreou dia 19 de Janeiro de 2018
Temporada: até 04 de Março