Nanda Rovere, do Aplauso Brasil (Nanda@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Consertando Frank já chama a atenção na sinopse: um escritor se disfarça de paciente para tentar uma entrevista com um famoso médico que criou um método de ¨cura gay¨. Um assunto que em pleno ano de 2015 continua atual devido a muitos fatos de desrespeito aos seres humanos. A peça traz uma equipe competente, que está concorrendo a Prêmios pela qualidade do trabalho: No elenco estão Chico Carvalho, Henrique Schafer e Rubens Caribé que concorrem ao Aplauso Brasil, em conjunto, pela interpretação. Marco Antonio Pâmio assina a direção e Ricardo Severo, a trilha sonora.
No palco, os atores estabelecem um intenso jogo cênico para contar uma história impactante que fala de uma questão aparentemente bizarra, transformar um gay em heterossexual, mas que é extremamente atual. Uma era em que a violência é uma realidade e que políticos retrógrados, como o deputado Marco Feliciano, ainda conseguem apoio popular para as suas ideias absurdas.

O texto, do norte-americano Ken Hanes, é inédito no Brasil e foi traduzido por Pâmio. O diretor imprime nas cenas uma intensidade que reflete a complexidade do tema tratado em cena, que além de falar da questão do homossexualismo, vale ressaltar, coloca em xeque a falta de ética e como os seres humanos são volúveis e manipuláveis.
Na trama, o escritor Frank Johnston começa a frequentar o consultório de um psicoterapeuta reacionário, Arthur Apsey, com o objetivo de realizar uma matéria contando como funciona o método criado pelo psicoterapeuta.
Com a reportagem, Frank pretende ganhar notoriedade. Ele não age sozinho, no entanto. O plano foi elaborado por Jonathan Baldwin, seu namorado, que foi homofóbico na juventude e atualmente é ativista gay.

Baldwin também é psicoterapeuta e mantém grande desprezo por Apsey. Não mede esforços para denunciar o médico, mesmo que a sua vida particular saia prejudicada. Mantem com Frank uma relação de amor e desejo, mas pouco sólida e envolta em mentiras.
A peça é dividida em fases, não de maneira explícita, mas evidenciadas por mudanças no desenrolar da história e reforçadas pela trilha e pela luz:
Num primeiro momento, Frank é manipulado por Baldwin e o objetivo é a destruição da carreira de Apsey. Todas as suas falas e atitudes são detalhadamente programadas pelo casal.
O plano de Frank, no entanto, começa a dar errado quando o Apsey descobre o motivo da presença do repórter no seu consultório. A partir desse momento, Apsey é quem começa a manipular Frank, propondo que ele aceite ser ¨curado¨.
Como a personalidade de Frank é fraca e as suas convicções maleáveis, a sua cabeça se transforma num emaranhado de incertezas e emoções. O clima é pesado, tenso.
Os conflitos entre Apsey e Baldwin se acentuam e eles podem perder a licença profissional. O relacionamento amoroso entre Frank e Baldwin é afetado, mas Apsey não tem a sua reputação abalada, afinal é um profissional renomado e tem meios para evitar punições.
Há uma divisão de espaços para diferenciar a casa de Frank e do consultório, mas as cenas acontecem simultaneamente. Frank é uma espécie de peteca nas mãos de Apsey e Baldwin.

A direção consegue transmitir essa situação através de movimentações e diálogos que se misturam, como se os psicoterapeutas estivessem dentro da cabeça de Frank e guiassem totalmente os seus pensamentos, controlando assim todas as suas ações.
A palavra e a interpretação dos atores ( todos no mesmo nível de competência) são o centro da encenação, mas Pâmio criou marcações precisas e inteligentes, que ajudam os atores na exploração das nuances dos personagens, que ao longo da história demonstram ¨desvios éticos¨ e, consequentemente, um caráter duvidoso.
A trilha de Ricardo Severo merece atenção. É forte e cortante. Entra em momentos estratégicos para aguçar a tensão entre os personagens, que aumenta durante a apresentação.
Consertando Frank faz curta temporada no Teatro Eva Herz e somente às terças. Uma pena porque um trabalho dessa qualidade merecia estar em cartaz mais dias da semana.
De qualquer maneira, além do reconhecimento da crítica, o público tem apreciado a montagem, que teve as sessões lotadas no Mube Nova Cultural e mantem o mesmo sucesso no Eva Herz.
Ficha Técnica:
Texto: Ken Hanes
Tradução e direção: Marco Antônio Pâmio
Elenco:
Chico Carvalho (Frank Johnston)
Henrique Schafer (Dr. Apsey)
Rubens Caribé (Jonathan Baldwin)
Produção: Ronaldo Diaféria e Kiko Rieser
Iluminação: Fran Barros
Trilha Sonora: Ricardo Severo
Figurino: Naum Alves de Souza
Cenário: Chris Aizner e Nilton Aizner
Serviço:
Consertando Frank
Teatro Eva Herz – Av Paulista, 2073 – Conjunto Nacional
168 lugares
(11) 3170-4059
De 14 de julho a 1º de setembro
Terças-feiras, às 21h
Ingressos: R$ 50
85 minutos
14 anos