Afonso Gentil, para o Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – O que de pronto desperta simpatia e respeito diante de uma estreia do grupo Arte Ciência no Palco é o acerto da escolha do tema, sempre em perfeita sintonia com os propósitos de sua existência artística: mesclar as questões científicas – infinitas –ao universo existencial – de infinitas indagações. Isso posto, não fosse por seus acertos de direção, este As Insubmissas – história de quatro mulheres cientistas de diferentes épocas unidas numa espécie de limbo celeste à espera do reconhecimento (coitadas!) de uma humanidade ególatra – é um soberbo exemplo de repertório sólido, que logra manter uma companhia de teatro no topo por todo o tempo.
ESPETÁCULO DE RIGOR ESTÉTICO
Esse texto do veterano Oswaldo Mendes, homem de teatro que se dá bem em todos os setores – é ator, diretor, biógrafo de expoentes do teatro brasileiro, agitador cultural – revela-se, no palco, prenhe de forte teatralidade, o que permite permanente adesão do público, que torce em silêncio à cada argumentação desta ou daquela cientista em “ julgamento”. Ninguém jamais se esquecerá de Bertha Lutz, Madame Curie, Rosalind Franklin e Hipácia, depois de ouvi-las ou saber o que se falou delas. Mendes devolve à lenda a pulsação humana em toda a sua pungência.
De mãos dadas com o autor, Carlos Palma se esmera no rigor estético, que se desdobra no cenário metafórico de pedras suspensas; na trilha sonora, de função dramática e de execução impecável; na luz (Rubens Velloso), que joga a plateia na atemporalidade da ação; mais o tom épico do elenco. Tudo da melhor qualidade, remetendo-nos à magia estética dos nossos espetáculos “sessentistas”, que fizeram do diretor Ademar Guerra – precocemente falecido – uma figura de proa da vanguarda da época com seu Marat-Sade, por exemplo. Os figurinos de Carolina Semiatzh e Beatriz Rivato são bem ilustrativos daquela estética.
Um grande acerto da encenação de Palma foi recorrer à preparação corporal da experiente Inês Aranha, fazendo das intérpretes Adriana Dham, Monika Ploger, Selma Luchesi (uma Madame Curie de encantadora dignidade) e Vera Kowalska um coro de vozes reivindicadoras, cujo eco vibrante percorre séculos de justo protesto. Questionamos – apenas – o desdobramento de personagens episódicas na figura de uma firme Letícia Olivares, porém soando como algo desarmônico com a eletrizante atmosfera de até seu surgimento da plateia em trajes modernos. Um recurso brechtiano num debate “aristotélico”?

A encenação de As Insubmissas dá um respiro neste vórtice de montagens de pequenos questionamentos que povoam nossos palcos.
Serviço:
INSUBMISSAS – Mulheres na Ciência / Teatro de Arena da Funarte Eugênio Kusnet – Rua Teodoro Baima, 94 – República – região central –tel.3256-9463 – 98 lugares – Sexta e sábado 21h –Domingo 19 h – Ingresso R$ 20,00 – até 01 de março.