Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Não sei quando nem por que, a civilização ocidental passou a ignorar suas promessas, a tratar as juras como mero objeto da retórica demagógica. Não sei quando eu e você passamos a aceitar e calar. Embora a protagonista de Incêndios, peça do libanês que fugiu, com sua família, de sua Beirute natal aos 10 nos de idade, Wadji Mouawad – em montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho e protagonizada por Marieta Severo -, que fica no Teatro Faap até dezembro, fique calada por não suportar que sua cicatriz volte a ser ferida, o autor reverte a lógica ocidental e prova quão balsâmico é o cumprimento das promessas.
Nawal (Marieta Severo), libanesa, auto exilada no Canadá, morre e deixa um testamento. Além de seus bens, ela deixa a seus filhos gêmeos, Simon (Felipe de Carolis) e Jeanne (Keli Freitas), um insólito pedido: entregar duas cartas redigidas por ela, uma para o pai dos gêmeos, que acreditavam estar morto, e outra para o irmão dos mesmos, o qual nem sabiam da existência.

O testamento de Nawal, feito pelo tabelião Hermile Lebel (Marcio Vito), traz ainda indicações de como deve ser enterrada – nua, de cabeça para a terra, sem caixão, sem lápide e “nada de epitáfio para aqueles que não cumprem suas promessas e uma promessa não foi cum prida”.
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A princípio, o casal de gêmeos, sobretudo Simon, repudia os pedidos da mãe, sempre ausente e que ficou por cinco anos sem pronunciar uma só palavra, mas Jeanne parte para o Líbano à procura do pai – “não por ela (Nawal, sua mãe), mas por mim” – e verdades ocultas, silêncios guardados, a sinuosa estrada das revelações transformam aos gêmeos e aos espectadores que acompanham a saga.
Mouawad apresenta uma tragédia moderna em que o passado é purificado à medida que as verdades são reveladas. É preciso o sacrifício para que se alcance a bem-aventurança. É preciso encontrar a origem da dor para que se encontre o antídoto para ela. É esse o percurso de Incêndios, a segunda peça da tetralogia O Sangue das Promessas (juntamente com Litoral, Florestas e Céus) que propõe a investigar a origem.

Se em Rei Édipo, do grego Sófocles, os acontecimentos decorrentes da revelação da origem são totalmente funestos, em Incêndios a revelação da origem quebra uma raiva entre as gerações – “É preciso quebrar o fio”. Mas antes de “quebrar o fio” assistimos cenas que marcaram a vida de Nawal, dos 14 aos 60 e poucos anos.
Assistir a este espetáculo é imprescindível porque “há verdades que só podem ser reveladas quando são descobertas” e uma sinopse não deve trair tal sentença. Mouawad coloca a nós, espectadores, na pele dos gêmeos e, assim, descobrimos a verdade dos fatos juntamente com eles.
Ficha Técnica:
Autor:Wajdi Mouawad
Tradução: Angela Leite Lopes
Direção: Aderbal Freire-Filho
Com Marieta Severo, Felipe de Carolis, Keli Freitas, Marcio Vito, Kelzy Ecard, Fabianna de Mello e Souza, Flávio Tolezani e Isaac Bernat
Cenografia: Fernando Mello da Costa
Iluminação: Luiz Paulo Nenen
Figurinos: Antonio Medeiros
Trilha Sonora: Tato Taborda
Direção de Produção: Maria Siman
Produção Executiva: Luciano Marcelo
Produtores: Maria Siman, Felipe de Carolis e Marieta Severo
Produtor associado: Pablo Sanábio
Idealização do Projeto: Felipe de Carolis
Realização: Primeira Página Produções, Emerge e Teatro Poeira
Serviço:
Incêndios
Estreia: 19 de setembro
Temporada: até 14 de dezembro
Local: Teatro FAAP
Endereço: Rua Alagoas, 903 – Higienópolis, São Paulo – SP
Horários:
Sexta-feira, às 21h
Sábado, às 21h
Domingo, às 17h
Preços:
Sexta-feira: R$ 60,00 (inteira)
Sábado e Domingo: R$ 90,00 (inteira)
Televendas: 3662-7233 e 3662-7234
Bilheteria: quarta a sábado, de 14h às 20h. Domingo, de 14h às 17h
Compras on-line: www.teatrofaap.showare.com.br
Duração: 120 minutos