Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

Elias Andreato dirige a comédia Meu Deus! de Anat Gov, que propõe o encontro do Todo Poderoso, que está em crise, com uma terapeuta. Entre risos e surpresas, o público reflete sobre a existência
SÃO PAULO – Há muito um espetáculo não me emocionava tanto! Sai da sala do Teatro FAAP depois de assistir a comédia da dramaturga israelense Anat Gov, Meu Deus!, comovido e refletindo sobre minhas convicções sobre Deus. Com humor refinado, a autora — que prematuramente faleceu em 2012, vítima de câncer — provoca o espectador a refletir profundamente sobre a existência humana. Ao procurar uma terapeuta que se diz ateia, papel brilhantemente defendido por Irene Ravache, Deus, encarnado por Dan Stulbach, se mostra deprimido e em crise justamente pelo resultado e pelas ações de sua criação, nós os homens.
O texto é rico por transitar entre o humor — as cenas iniciais, em que o paciente se apresenta e a terapeuta revela sua incredulidade, são hilárias — e o drama, com reviravoltas surpreendentes e um desfecho tocante.
A trama inicia com a psicóloga Ana em sua bela casa se preparando para receber o novo paciente que ligou suplicando para ser atendido (mãe de um rapaz autista, vivido por Pedro Carvalho, ela só trata de crianças); em suas falas solitárias, ela questiona Deus pela falta de chuva.
Depois de avisar ao filho que precisa trabalhar, Ana leva o rapaz para dentro, quando o paciente entra e começa a apreciar o local. Ana volta e se surpreende com ele já na sala. A surpresa só aumenta com o início da terapia, quando ele confessa estar triste e deprimido há mais de 2 mil anos! Ana só se convence de que está diante do Todo Poderoso quando Ele prova saber de suas mais íntimas e inconfessáveis limitações.

A partir deste momento Ana toma as rédeas da situação e começa a checar as atitudes divinas, questionando passagens do início da criação (fatos retratados no Antigo Testamento) e se o criador não tem sua carga de responsabilidade sobre as maldades e o lado perverso do homem. Este embate entre a terapeuta e Deus, a princípio improvável e inverossímil, torna-se real e possível, pois faz com que o espectador repense sobre a atitude destrutiva do homem diante do planeta e da vida.
Mais do quer propor a personificação de Deus, Anat Gov, com esta peça, promove uma discussão mais profunda, a de que somos a criação divina e, por isso, somos Deus, temos a centelha divina em nossa essência. Assim, quem está em crise: Deus ou o homem? Quem precisa rever seus atos e se reavaliar de maneira radical?
Além do texto excepcional e a direção precisa de Elias Andreato, a montagem de Meu Deus! encanta pelo cenário envolvente de Antonio Ferreira Junior, o elegante figurino de Fause Haten e a bela iluminação de Wagner Freire.
Mas o que justifica a montagem desta peça é sem dúvida a atuação dos atores: Dan é a pura emoção no palco, com a verdade do personagem transmitida pelo olhar de extrema expressão; já a ‘divina’ Irene, com uma personagem rica como Ana, tem a chance de mostrar várias nuances de interpretação e conduz a trama para o desfecho comovente. Ambos, ao final, levam a plateia ao êxtase!
Espetáculo que merece ser assistido por imensas plateias. Uma das grandes atrações do ano!
Fotos João Caldas
Roteiro:
Meu Deus! Texto: Anat Gov. Adaptação: Jorge Schussheim. Tradução: Eloísa Canton. Versão: Célia Regina Forte. Direção: Elias Andreato. Elenco: Irene Rache, Dan Stulbach ePedro Carvalho. Cenário: Antonio Junior. Figurino: Fause Haten. Iluminação: Wagner Freire. Trilha sonora: Jonatan Harold. Fotografia: João Caldas. Produtoras: Selma Morente e Célia Forte. Realização Morente Forte Produções Teatrais.
Serviço:
Teatro FAAP (500 lugares), Rua Alagoas, 903, tels.3662.7233 e 3662.7234.
Horários: sexta às 21h30, sábado às 19h e 21h30 e domingo às 18h. Ingressos: sexta R$ 60, sábado R$ 80 e domingo R$ 70. Bilheteria: de quarta a sábado, das 14h às 20h e domingo das 14h às 17h.Aceitam-se cartões, cheques não.Estacionamento gratuito, com vagas limitadas. Acesso para deficiente. Ar-condicionado.Duração: 80 minutos. Classificação:12 anos. Temporada: até 27 de julho.