Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com.br)

Kiwi e Lichia. Foto de Bob Sousa
SÃO PAULO – O espetáculo Kiwi em cartaz na sala experimental do teatro Augusta é urgente aos jovens. É um passeio pela boa dramaturgia e uma oportunidade dessa parcela de espectadores se enxergarem no palco, tanto pela temática como também pela dupla de atores no palco. A peça tem ainda carrega pelo menos três méritos: trata de assuntos espinhosos sem subestimar a capacidade de reflexão dos adolescentes, é capaz de tocar adultos para temas sociais urgentes e consegue, com poucos recursos, criar um exemplar teatro de narração, que faz voar a imaginação em um primoroso texto.
Na história Kiwi e Lichia, interpretados pelos atores Rita Batata e Lucas Lentini dão vida à história de uma garota e seu melhor-amigo-namorado-marido. O enredo se passa às vésperas dos Jogos Olímpicos, quando a polícia faz uma limpeza social.
O texto canadense do autor Daniel Danis mostra o quanto exclusão, pobreza e violência existem em todas as partes. Não fosse por pequenas referências como a um inverno com neve, Kiwi poderia se passar no Brasil ou em qualquer lugar.
O diretor Lucianno Maza, que abraçou com garra o projeto, também assina a tradução do texto, cenário e iluminação. Foram seis anos para estrear o projeto, que segundo Maza deveria ser feito no ano dos jogos Olímpicos brasileiros. Mas, a verdade é que o texto canadense não só serve a outros lugares e espaços como a outras épocas. A limpeza social promovida em um grande evento mundial é apenas o mote para denunciar e falar sobre uma série de pessoas e grupos que sobrevivem no subterrâneo da população.
Maza consegue com o figurino de Anne Cerutti e trilha sonora de Dr. Morris dar força ao bom texto que tem a mão . O texto oferece várias imagens e pontualmente a trilha ou um elemento do figurino ou cenário ajudam a complementar um ponto ou outro. Um gorro ou um balão inflável apenas auxiliam a narrativa, que é o brilho do espetáculo.
Rita e Lentini interpretam com força seus personagens. Em Kiwi os limites e a falta deles para garantir a vida são postos um a um sem julgamento de valor. O roubo, as drogas, a exploração, o sexo precoce, o peso do casamento para a mulher, a maternidade, a busca por trabalho, a prostituição e a fome são colocadas ao lado a utopia do jovem que busca sempre um destino melhor e tem a sensação de ter o mundo para ele.
Em meio a uma vida apartada da sociedade, em busca da sobrevivência em grupo, sem nomes – e só codinomes – os dois protagonistas representam as amarguras de uma juventude jogada à pobreza, mas que representa também a perspectiva de um futuro melhor. A quem não tem nada, só a utopia pode salvar.
Kiwi é uma chance de jovens se verem no palco, entrarem em contato com um texto narrativo de qualidade, explorarem questões que os atingem e se defrontar com a realidade dos excluídos do corpo social. Uma reflexão para todos sobre o que, quem e o que nos é invisível e visível, além de uma oportunidade de vislumbrar o futuro que queremos.
FICHA TÉCNICA
Texto: Daniel Danis
Direção e tradução: Lucianno Maza
Elenco: Rita Batata e Lucas Lentini
Assistência de direção: Náshara Silveira
Trilha-sonora: Dr. Morris
Figurino: Anne Cerutti
Cenário e iluminação: Lucianno Maza
Assistência de iluminação: Melissa Guimarães
Arte gráfica: André Kitagawa
Projeto (programação visual): Caesar Moura
Fotos de divulgação: Arô Ribeiro
Fotos de cena: Bob Sousa
Assessoria de imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques
Produção executiva: Berenice Haddad
Produção e idealização: Lucianno Maza
Realização: Projeto Grande Elenco
SERVIÇO
De 1 º de Outubro a 27 de Novembro de 2016
Sábados, às 21h30, e domingos, às 19h
Teatro Augusta (Sala Experimental)
Endereço: Rua Augusta, 943 – Cerqueira César
Informações: (11) 3151-4141
Capacidade: 50 lugares
Duração: 50 minutos
Classificação indicativa: 14 anos
Ingressos: R$30,00 (inteira) / R$15,00 (meia-entrada: estudantes; jovens de baixa renda entre 15 e 29 anos; idosos acima de 60 anos; portadores de necessidades especiais e acompanhante; e professores da rede municipal e estadual)
Horário da bilheteria do teatro: Quarta a sexta, de 14h às 21h; e sábados e domingos, de 13h às 21h.
Os ingressos também podem ser adquiridos pelo site e televendas: www.compreingressos.com e (11) 2122-4070.