Kyra piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – “Não nem Nada” é um espetáculo que nos apresenta a nossa aflição e delícias do hoje. Dessa tal pós-modernidade – na qual vivemos, mas ainda não tem termo exatamente definido. São 12 cenas com narrativas, cenário e atores em total agilidade. A tecnologia, as nossas relações, o telemarketing, a busca pela fama no universo do “parecer é o que vale” e dos debates cheios de certezas irrefutáveis. Tudo posto em cena por Vinicius Calderoni, que estreia como autor e diretor.
O palco é nosso espelho e ali vemos e podemos discutir pela arte a fragmentação pelas quais estamos sendo formados enquanto indivíduo, ideias e ideais. O texto é montado como uma junção de recortes de jornais. O cenário é assim também: recortado, com caixas que abrem, mudam e se transformam com rapidez.
Assistir a peça dirigida por Vinicius Calderoni (ao lado do co-diretor Rafael Gomes) lembrou- me “A crise”, o primeiro capítulo do livro “Jamais Fomos Modernos” do antropólogo, sociólogo e filósofo Bruno Latour. O texto expõe as notícias de jornal, que nos são dadas fragmentadas em editorias, mas também misturadas nos assuntos que tratam.

“Nós somos híbridos, instalados precariamente no interior das instituições científicas, meio engenheiros, meio filósofos, um terço instruídos sem que o desejássemos, optamos por descrever as tramas onde quer que elas nos levem. Nosso meio de transporte é a noção de tradução ou rede. Mais flexível é a noção de sistema, mais histórica do que a de estrutura, mais empírica do que a de complexidade”. (Latour, 1994, p. 9).
O universo que nos apresenta “Não nem Nada” talvez possa ser confundido como um espetáculo jovem, da geração Y (e foi escrito por um jovem). Mas é bem mais do que isso: é um retrato para o palco, ainda que despretensioso, dos fenômenos sociais e culturais do hoje. Além de Latour poderíamos citar Ulrich Beck, Gilles Lipovetsky, Zygmunt Bauman….
Claro que “Não nem Nada” não é um estudo acadêmico ou algo que se assemelhe. E por isso, fiz questão de cunhar o termo despretensioso. Mas sem querer, de forma bem leve e divertida nos coloca esse espelho que já vem sendo tratado na academia e merece ser tratado com respeito pelo teatro também.
Muitas peças tratam do individuo, de fenômenos contemporâneos e etc., mas nenhuma traduz de forma tão clara a fragmentação e as relações como “Não nem Nada”.
FICHA TÉCNICA
Texto e direção: Vinicius Calderoni
Com: Geraldo Rodrigues, Mayara Constantino, Renata Gaspar e Victor Mendes
Co-direção: Rafael Gomes
Assistente de direção: Guilherme Magon
Cenografia: Valentina Soares e Wagner Antônio
Desenho de luz: Wagner Antônio e Robson Lima
Figurino: Valentina Soares
Direção de Produção: César Ramos e Gustavo Sanna
Preparação Corporal: Fabricio Licursi
Fotos:Pedro Bonacina e Renata Terepins
Projeto Gráfico: Laura Del Rey
Não Nem Nada
Texto e direção de Vinicius Calderoni
Co-direção de Rafael Gomes
Um espetáculo do Empório de Teatro Sortido.
Com: Geraldo Rodrigues, Mayara Constantino, Renata Gaspar e Victor Mendes
Indicação de faixa etária – 14 anos
Duração: 60 minutos
Teatro Cacilda Becker
de 27/02 até 29/03
Sextas e sábado às 21h e domingos às 19h
Não haverá sessão dia 20/3.
Ingressos: R$10,00
lotação:180 lugares
Endereço: Rua Tito, 295 – Lapa, SP
Telefone:(11) 3864-4513