Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Redivivo, o circo-teatro revela sua força, na melhor das formas, em Chica Boa, de Paulo Magalhães e direção de Fernando Neves. De graça, este clássico das comédias que era representado nas lonas, traz o prazer do riso leve, singelo e preciso. É pertinente frisar que não se trata de reconstrução museológica, mas um resgate necessário e de muito talento de uma forma popular de nossa cultura. Em cartaz na Sala Carlos Miranda da Funarte, o espetáculo integra o Projeto do Riso ao Choro.
No início do século 20, quando a família era o epicentro da sociedade, os valores morais eram bem menos maleáveis que hoje e a fanática devoção religiosa podia revelar tiranos que, em seu moralismo exacerbado, atacavam para se defender, passa a história de Chica Boa.
Uma família tradicional de Santa Tereza (RJ) tem na figura de sua matriarca, Dona Engrácia (Juliana Gontijo), a clara expressão da tirania censória. Ela conduz seu lar com onipotencio, valendo-se da propagação do terror que chega às vias da violência ( seu marido tem cinco pivôs que ganhou ao contrariá-la).
Além do marido, ela mantém num eterno luto e sob rédeas curtas, a sobrinha, o primo e o filho. Mas com a chegada de Francisca (Vera Abbud), a Chica Boa, Dona Engrácia vai perdendo o controle da situação.
Fernando Neves, oriundo da tradicional família Arethuzza de circo-teatro, recupera e dá novo oxigênio à maneira cuidadosa na condução do espetáculo, seja nas gags que permeiam a cena, na utilização dos efeitos sonoros a completar a cena, nas caracterizações dos personagens, no tom naturalista e bem-marcado dos atores, enfim, estamos diante da sofisticada simplicidade imposta pelo gênero. Fica claro que para causar o riso não é preciso recorrer a apelações.

Claro que a engrenagem funciona à perfeição graças, também à qualidade do elenco – Eliana Bolanho, Flávio Pires, Guto Togniazzolo, Juliana Gontijo, Luciana Viacava, Nereu Afonso, Vera Abbud – que eleva a experiência cômica a entretenimento de primeira e obra de arte inconteste.
Ficha Técnica Chica Boa
Texto: Paulo de Magalhães
Direção: Fernando Neves
Ass. de Direção: Kátia Daher
Elenco:
Eliana Bolanho
Flávio Pires
Guto Togniazzolo
Juliana Gontijo
Luciana Viacava
Nereu Afonso
Vera Abbud
Direção Musical: Fernando Esteves
Figurinos: Carol Badra
Visagismo: Carol Badra
Cenografia: Fernando Neves, Marcelo Andrade e Zé Valdir
Cenotecnia: Zé Valdir
Iluminação: Eduardo Reyes
Fotografia: Ligiane Braga
Operação de Som: Kátia Daher
Operação de Luz: Rafael Araújo
Produção: Rafaela Penteado
Design Gráfico: Thais Oliveira
Chica Boa
Até 22 de fevereiro
De quinta a sábado, às 19h e domingos, às 18h
Ingressos: Grátis
Classificação: 12 anos
Duração: 90 minutos
Projeto do Riso ao Choro
Contemplado com Edital de Ocupação da Sala Carlos Miranda do Complexo Cultural Funarte São Paulo, em 2014
Funarte São Paulo – Sala Carlos Miranda
Al. Nothmann, 1058 – Campos Elíseos, São Paulo
CEP 01.216-001
Sala Carlos Miranda do Complexo Cultural Funarte São Paulo. Alameda Nothmann, 1058, Campos Elíseos, São Paulo, SP
Capacidade: 50 lugares