Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

POR gAL oPPIDO
SÃO PAULO – A primeira imagem a que os espectadores de A Merda (La Merda), do italiano Cristian Ceresoli, são tentados a associar, é a de uma sinfonia. Um concerto, preciso e precioso, em que os instrumentos são o corpo e a voz da intérprete, Christiane Tricerri, que também assina a direção do solo que fica só até sábado no Auditório do SESC Pinheiros.

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Sentada numa espécie de “cadeirão” (desses em que ficam os pequenos para comer), nua, com as pernas distante do alcance do chão (o que salienta a diminuta altura da personagem),0 com uma sábia luz de Gita Govinda (que, ao iluminar o dorso e até o joelho, complementa a ideia da baixa estatura motivo de incômodo para a personagem), e empunhando um microfone – sua arma, pronta para descarregar uma salva de tiros-palavras, sensações, desejos, memórias – de uma pequena mulher comum, baixa, feia, corcunda. Com a estima mais baixa que o rodapé, um certo sentimento de inadequação ao que considera o “padrão ideal”. Desejo irrefreável de reconhecimento. Ser o foco. Objeto de desejo. Alvo de inveja.

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Sim, A Merda dá vertigem. Sim, A Merda chacoalha. Sim, A Merda provoca. Sim, A Merda nos esfrega um espelho. Sim, A Merda coloca questões sobre padrões a que somos escravos e precisamos nos desagrilhoar. Sim, A Merda é urgente e necessária.
Apesar da montagem brasileira divulgar que tem a criação original por base, ao assistir as imagens da versão interpretada por Sílvia Gallerano, mesmo que cenografia, nudez da atriz e o uso do microfone como suporte a tornar o corrosivo texto mais incrustado no espectador, a regência do Maestro Marcello Amalfi que, em seu desenho vocal, trabalhou cada frase, cada ideia, cada palavra com notas, melodias, ritmo, enfim, todas as bases que tornam a peça de Ceresoli uma partitura sinfônica.

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E, claro, o êxito que faz plena a harmonia do concerto está na visceralidade aliada ao rigor técnico com que Christiane Tricerri executa a partitura de sua sinfônica encenação. Há momentos em que a angústia da personagem alcança determinada melodia; os devaneios seguidos de revolta, outra; as memórias que chegam como fragmentos, outra, e assim por diante. Sem que Tricerri perca o apuro, a limpeza da dicção, fato simples, mas tão ausente em algumas interpretações.
Por essas e outras, A Merda é um primoroso e irresistível soco no estômago.
SERVIÇO:
A Merda (La Merda) de Cristian Ceresoli com Christiane Tricerri, estreia dia 9 de julho, às 18h, no Auditório do Sesc Pinheiros. Rua Paes Leme, 195 – São Paulo. Telefone: 3095-9400. Temporada: Quintas, sextas e sábados, às 20h30. Ingressos: R$ 25 (Inteira), R$ 12,50 (Meia: estudante, servidor de escola público, +60 anos, aposentados e pessoas com deficiência), R$ 7,50 (Credencial Plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes). Duração: 60 minutos. Censura: 18 anos. Capacidade: 98 lugares. Serviço de vendas de ingressos através da Rede Sesc (www.sescsp.org.br). Possui estacionamento, lanchonete, ar-condicionado e acesso para pessoas com deficiência.