Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

São Paulo -A comédia A Graça do Fim é o último texto do dramaturgo Fauzi Arap (1938-2013). Ele já estava acometido pelo câncer que o levou para o destino inevitável de todos – a morte – quando escreveu o espetáculo. O texto traz ensinamentos, história, e vivência. Não é um dramalhão sobre a morte ou a vida. E sim a poesia da vida (com o gosto e seus desgostos). Com esse espírito, o diretor Elias Andreato leva a peça ao palco do Eva Herz, aos sábados (em horário de matinê), às 18h.
O ator Nilton Bicudo se entrega na pele de um idoso que não é ainda. Envelhece nas expressões, nos gestos e na forma como põe o corpo em cena. Lembrou meu avô e me emocionou com os comportamentos que ‘pegou ‘ do próprio Arap e outros tantos idosos. Conseguiu me carregar a uma memória afetiva, em um realismo que é o melhor elogio que posso lhe oferecer em gratidão.
Ao lado de Bicudo está o ator Cleiton Santos, novato, que foi aluno de Elias Andreato e oferece boas surpresas nas trocas com o ator veterano. Bicudo é um idoso, que lúcido tenta manter as rédeas da própria vida, e vê de início o cuidador (interpretado por Santos) como uma ameaça a isso.
Uma nora e um filho – ator de televisão – que tentam à distância controlar a vida de um homem que sabe viver e tem muito a ensinar. Um texto ácido, com críticas à sociedade que fazem a plateia rir alto – por identificação. Arap parece gritar para a plateia sair do casulo. Trocar experiência, ouvir. Diz um não à TV, à internet e a tudo aquilo que nos prende em uma solidão ignorante.
Não é uma peça militante, mas nos convida à poesia de ir a um jogo de futebol, a um jantar, a uma conversa durante o café da manhã, a um show, ao teatro. E conclama, com ar de quem sabe do que vale a pena: que condenar nossos idosos sem o direito de se expressar, extravasar e viver é um crime sem perdão.
Antes que o espetáculo comece, aliás, Andreato faz uma homenagem para Arap. Os ouvidos atentos daqueles que não estão perdidos nos celulares (esperando o aviso para desliga-los no último minuto possível) podem se deliciar com o próprio dramaturgo falando, recitando, trazendo pensamentos. Ali: antes do terceiro sinal, A Graça do Fim já diz a que vem.
Para arrematar com leveza, A Graça do Fim conta com a composição de Jonatan Harold na voz de Daniel Maia, em uma canção que condiz com a emoção da peça. Um testamento de Fauzi Arap, estudioso da Psique humana, da espiritualidade e homem do teatro.
Ficha Técnica
Autoria: Fauzi Arap
Direção: Elias Andreato
Elenco: Nilton Bicudo e Cleiton Santos
Assistência de Direção: André Acioli
Trilha Sonora: Jonatan Harold
Voz: Daniel Maia
Iluminação: Adriano Tosta
Cenografia e Figurinos: Elias Andreato
Produção Executiva: Rosy Farias
Produção: Solo Entretenimento
Equipe São Paulo
Direção Artística:- Dan Stulbach
Gerência: André Acioli
Gerência técnica: Hélio Schiavon Junior
Assist. Operacional: Eduardo Cardoso
Serviço
“A Graça do Fim”
Teatro Eva Herz (unidade Conjunto Nacional) – Av. Paulista, 2073 – Bela Vista – São Paulo
Comédia dramática, adulto, 60 minutos
De 4 de abril até 27 de junho de 2015
Sábados, às 18 horas
Ingressos: R$ 40,00 (inteira)
Capacidade: 168 lugares (quatro para cadeirantes)
Bilheteria: de terça a sábado, das 14h às 21h; domingos, das 12h às 19h
Informações: 11 3170 4059