EM REDE – A primeira promessa que faço a mim – antes mesmo de começar a escrever este texto – é de que não irei chorar. Mas a simples idéia de cumprir essa promessa me traz um ar de nostalgia e é bem possível que eu chore antes de terminar. A própria utilização do verbo “chorar” já é um indício de que não estou no controle. Afinal, só mesmo um louco pode negar a força de uma palavra e tentar burlar toda a definição atribuída a esse sentimento – é como querer abortar um embrião que já se encontra perfeitamente desenvolvido em nosso útero.
Isso me obriga a segurar uma lágrima, mas não impede que eu sinta os meus olhos arderem.
Um minuto… pronto!
A escolha de um vocábulo sempre aponta o teor do nosso pensamento e a dimensão exata de nossa alma, obtida pela busca pura e simples da razão que nunca teremos.
É exatamente isso!
Assim como uma pessoa completamente livre se esforça para acreditar na própria liberdade, a busca desenfreada pela razão nos faz desconfiar da verdade e cercear a própria sorte até extingui-la.
E dentro em pouco lá estaremos nós, livres sonhadores, derramando lágrimas pelos córregos da metafísica.
Isso é chorar! Porém poderia ser qualquer outra coisa, se nesse momento outro verbo atravessasse o meu coração, se outra ação fosse o núcleo do meu predicado.
Mas não!
E se chego a essa conclusão tão filosófica, talvez seja, simplesmente, para não sair daqui com os olhos tão cheios de lágrimas, a ponto de ignorar a própria existência.
Pensando bem, vou reescrever esse texto, mas desta vez com a palavra “amor”.