O ano passou!
Nem acabou, mas já passou… como um ácido enfurecido corroendo as narinas.
Desculpe-me por dar a notícia. Porém o ano se converteu em tardes de domingo. Aquelas tardes chatas e monótonas, quando somos tomados por certo torpor e impotência. Quem somos nós frente às desgraças desmedidas que passaram a decidir o nosso futuro?
Tantos projetos, tantas criações, tantas dúvidas…
Somos esboços mal traçados pela ignorância de quem se recusa a aprender.
E vendo tanta coisa confusa, tanta coisa estranha, confesso que tenho medo da vida, assim como é comum se ter medo da morte.
Paranoico? Eu? Nem tanto!!!
Isso é só um pouco do que sou.
A cada dia se torna mais sólida a minha crença de que o homem desistiu de ser homem.
Melhor eu parar com esses pensamentos…
Mas se paro as lembranças me vem à tona:
“Ah! com que gosto eu descia e subia a Rua Augusta. Sem cessar. Os bares cheios, os cinemas cheios, as calçadas cheias, os LGBT’s na ativa.
O Wase não servia. O barato era se perder, era ser consumido pelos desejos.
A Praça Roosevelt, quase à meia-noite.
A Paulista, quase ao meio-dia.”
Enquanto o mundo for essa rede insana de gente chata e cheia de regras e costumes alienantes. Eu vou preferir a rua. A rua causticante, a rua perigosa, a rua das ameaças invisíveis.
Quais serão as consequências desse “isolar-se”, dessa estética mancomunada que dá nova fantasia aos sonhos?
A inveja a engordar com as propagandas da televisão.
A arte a escoar pelo ralo em representações sem humanização.
Dou ponto final. Risco do calendário o ano de 2020.
É um ano perdido!
Mas, aqui pra nós, se estamos vivos e lendo esse texto, o que mais poderíamos querer?