Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil

SÃO PAULO- O grupo carioca, Companhia Aberta, depois de um ano e três temporadas de sucesso no Rio, finalmente chega a São Paulo com a montagem Vermelho Amargo, baseada na obra do poeta mineiro Bartolomeu Campos Queirós, que faleceu em 2012. A adaptação para o palco do livro — vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura/2012 como melhor livro do ano — é de Dominique Arantes e Diogo Liberano, que dirige o espetáculo. A temporada paulistana no SESC Pinheiros é curta, sessões somente sexta e sábado, até final de agosto.
De acordo com o diretor, o objetivo do grupo foi transpor para o palco a poesia de Bartô, como carinhosamente o escritor era conhecido:
“A montagem é um olhar nosso sobre o Vermelho Amargo. Um olhar feito por muitos olhos, tal qual um céu estrelado. Um olhar desenhado por muitas vozes e profundamente tingido pelo amadurecer do caminho”, argumenta Diogo Liberano.
A peça tem dois momentos narrativos bem distintos: no primeiro plano, à direita do palco e com figurino atual, está um homem saudoso (interpretado por Vandré Silveira) que representa o presente e revisita seu passado dolorido; já no centro do palco, com figurino feito de retalhos, estão dois garotos (Daniel Carvalho Faria e Davi de Carvalho) que encarnam a memória daquele homem na infância.

Enquanto o narrador tenta organizar seus pensamentos e lembranças, os dois garotos vivenciam aquelas memórias.
Com a morte da mãe, uma mulher sensível e carinhosa, aquela família se desestrutura e os filhos tentam superar, cada um de seu jeito, a dor e a perda.
O narrador lembra que não podiam contar com o pai sempre alcoolizado e sofriam com o descuido da madrasta; assim um irmão mastiga vidro, a irmã passa a miar, já que o gato era mudo, e a outra irmã só bordava.
Como uma catarse, o poeta, na epígrafe de seu livro, resume o que levou a escrever a obra:
“Foi preciso deitar o vermelho sobre papel branco para bem aliviar o seu amargor”
A montagem de Vermelho Amargo da Companhia Aberta mantém o tom lírico e poético da obra de Bartolomeu Campos de Queirós. A luz de Daniela Sanchez (intencionalmente vermelha), o figurino de Júlia Marini rico de significações, o cenário de Bia Junqueira que marca bem o presente/consciente e o passado onírico e a trilha sonora tocante (de Felipe Storino) envolvem o espectador, que viaja no tempo e nas memórias daquele personagem, que traz muito da experiência do próprio escritor. A direção precisa e a interpretação emocionada dos três jovens atores coroam de êxito a montagem.
As lágrimas finais do narrador comovem a todos, saí do espetáculo em estado de graça! Coloque em sua agenda, o espetáculo é imperdível!
“Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos.” (Trecho do livro)
Roteiro:
Vermelho Amargo. Texto: Bartolomeu Campos de Queirós. Adaptação: Diogo Liberano e Dominique Arantes. Direção: Diogo Liberano. Colaboração artística: Vera Holtz. Elenco: Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho e Vandré Silveira.Cenografia: Bia Junqueira. Iluminação: Daniela Sanchez. Figurinos: Júlia Marini. Trilha sonora: Felipe Storino Oficina contato improvisação: Cláudio Dias. Fotografia: Anna Clara Carvalho. Direção de produção: Tamires Nascimento.
Serviço:
SESC Pinheiros, auditório (99 lugares), Rua Paes Leme, 195, tel.: 11 3095.9400. Horários: sexta e sábado às 20h30. Ingressos: R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (usuário Sesc e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública) e R$ 5,00 (comerciários e trabalhadores em serviços e turismo). Bilheteria: terça a sábado, das 10h às 21h; domingos e feriados das 10h às 18h. Duração: 55 min. Classificação: 16 anos. Temporada: até 30 de agosto.