Maurício Mellone, para o www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil
Em processo colaborativo do diretor e atores do Teatro Kunyn, a peça é o resultado de pesquisa sobre a questão de gênero e o que é ser gay neste país. Em cartaz no CIT Ecum até 16 de março. Imperdível!

SÃO PAULO – Tive o privilégio de assistir ao espetáculo do Teatro Kunyn, Dizer e Não Pedir Segredo, na primeira temporada em 2010, quando era apresentado na sala de um apartamento, para uma plateia de no máximo 30 pessoas. Rever a montagem agora, depois de quase três anos, com alguns prêmios na carreira e fazendo parte da programação de inauguração do CIT Ecum me proporcionou muita emoção e alegria.
Se na estreia o espetáculo já causava impacto por sua proposta inovadora — o relato poético e contundente sobre a realidade de ser gay no Brasil, desde os tempos do descobrimento até os dias atuais —, hoje a montagem está revigorada, justamente pela experiência acumulada da equipe, que viajou por diversas regiões do país e colheu in loco as impressões e histórias das pessoas.
Além dos relatos históricos resgatados do livro de João Silvério Trevisan, Devassos no Paraíso – A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade, que serviram de base da pesquisa, o texto da peça (criado de forma colaborativa entre o diretor Luiz Fernando Marques e os atores Ivan Kraut, Luis Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya) constrói um olhar sobre o desejo. E o público torna-se cúmplice e coautor, já que é chamado a participar e dar seu depoimento pessoal.

O envolvimento da plateia é desde a entrada na sala de espetáculo: os atores cumprimentam a todos e oferecem água, refrigerante e guloseimas, deixando o clima aconchegante. Em seguida, os espectadores são convidados a escolher um objeto de cena ou algum adereço do figurino. À medida que os relatos são apresentados, os atores solicitam os objetos que estão com os espectadores e a interatividade se estabelece.
As histórias relatadas sobre a homossexualidade não seguem uma linha cronológica, mas retratam experiências desde o Brasil do Império até hoje.
“Há o olhar da criança, que se expressa de maneira libertária, e na medida em que avançamos no tempo, este olhar fica para trás e os valores e preconceitos são introjetados, discutidos e colocados em conflito nas relações familiares, nas relações de classe e nas relações de poder”, afirma o diretor no programa da peça.
As histórias relatadas são alinhavadas e, ao final, os atores distribuem velas e pequenas lanternas aos espectadores e pedem que cada um diga o que sentia em determinada época de suas vidas. Os depoimentos da plateia podem surpreender, pois carregam tanta ou maior emoção que os relatos do texto. Na apresentação em que estive, foram vários espectadores que falavam com voz embargada ou chorando literalmente!
Jahjah, Arcuri, Serruya e toda a equipe do Teatro Kunyn: parabéns e vida longa ao espetáculo Dizer e Não Pedir Segredo, que precisa chegar a um número cada vez maior de plateias deste nosso imenso Brasil!
Roteiro:
dizer e não pedir segredo. Criação, pesquisa e dramaturgia: Ivan Kraut, Luis Gustavo Jahjah, Luiz Fernando Marques, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya.
Supervisão dramatúrgica: Ronaldo Serruya. Direção: Luiz Fernando Marques.
Elenco: Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya. Assistência de direção: Daniel Viana. Iluminação: Wagner Antônio. Figurinos e adereços: Ligia Yamaguti e Felipe Cruz. Fotos: Cristina Froment e Adalberto Lima
Serviço:
CIT-Ecum, sala 2 (80 lugares), Rua da Consolação, 1623, tel: 11 3255-5922. Horários: sextas e sábados às 21h e domingos às 20h. Ingresso: R$ 40 e R$ 20. Pagamento: cartões e dinheiro.Televendas:www.ingresso.com 4003-2330. Bilheteria: segunda a sexta, das 14h às 18h. Estacionamento conveniado ao lado do teatro. Ar condicionado. Acesso e banheiro para deficientes. Temporada: até 16/03/2013.