Nanda Rovere, do Aplauso Brasil (nanda@aplausobrasil.com)

O Livro traz para os palcos o ator Eduardo Moscovis, que vive um personagem prestes a perder a visão. Depois de temporadas no Rio de Janeiro, apresentações por diversas cidades brasileiras e uma única apresentação em São Paulo, no Itaú Cultural, a peça entra em cartaz na Cinemateca Brasileira, para uma temporada de dois meses. A direção de Christiane Jatahy e a autoria de Newton Moreno, um dos grandes nomes da dramaturgia atual.
O texto de Moreno é o ponto de partida para questionamentos sobre o poder da visão e da palavra.
O personagem, sem nome, recebe um livro do seu pai. Esse livro já passou por diversos membros da família que possuem uma doença degenerativa que causa cegueira.
O Livro é o aviso que a perda de visão pode acontecer a qualquer momento e o desespero toma conta desse homem, ávido por contemplar as coisas e que terá que aprender a viver com a deficiência.
Ele percorre o livro tentando encontrar algum sentido para o que está lhe acontecendo, sabe que será a última vez que poderá visualizar as frases, as letras do livro e tudo o que está a sua volta.

Com mudanças de luz, que oscilam entre claro e escuro, o personagem explora as palavras, seus significados, a sua grafia e sobretudo os seus sons.
O público acompanha muito de perto as sensações e emoções, a respiração ofegante diante de um passeio desenfreado pelas páginas do livro. Em alguns momentos a sua vontade é sumir, desistir de tudo, mas não há o que se fazer além de aceitar as limitações que a vida irá lhe impor.
São 45 minutos de encenação, com interação entre o ator Du Moscovis, o personagem que interpreta e o espectador. Ele compartilha com o público os seus medos e consegue ativar a sua percepção para novos sentidos que vão além da visão.
Não há uma divisão nítida entre ator e personagem. A vida real e o fazer teatral se entrelaçam, já que todos nós passamos por transformações e precisamos lidar com limitações que a vida nos impõe. E isso não é fácil.
O Livro é um espetáculo tocante, que coloca à prova a capacidade de um homem de aceitar o seu destino. Como o tema é a visão, para quem é deficiente visual, como eu, a emoção aflora de modo retumbante.
Apesar do risco de cegueira ser praticamente inexistente, sempre há o medo de não enxergar, a dificuldade de andar pelas ruas diante de tantos obstáculos, a necessidade do uso dos óculos para que as palavras e imagens ganhem significado.
Moscovis é o responsável pelo manuseio da luz, da trilha e do cenário. Não há linearidade nas cenas, a ideia é transmitir emoções e sensações através do texto. da luz, da trilha e também do cenário, que se transforma no livro.
O ator fez pesquisas no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro, para presenciar mais de perto o cotidiano dos cegos. Transmite com competência a alma desse homem que está entre a luz e as trevas e num limite tênue entre aceitar e amaldiçoar a sua sina.
O ator merece aplausos pela sua expressão corporal e pela sua entrega no tablado.
Ficha Técnica:
Texto – Newton Moreno
Direção – Christiane Jatahy
Elenco – Eduardo Moscovis
Assistente de direção – Stella Rabello
Trilha sonora – Rodrigo Marçal
Cenário – Christiane Jatahy
Projeto de iluminação – Paulo César Medeiros
Orientação corporal – Dani Lima
Programação visual – Evolutiva / Chris Lima
Fotos – Paula Kossatz
Direção de palco – Wellison Rodrigues
Pintura de arte – Adeílson Moreira
Direção de produção – Tatiana Garcias
Assistente de produção – Náshara Silveira
Realização – Eduardo Moscovis | Grega Produções
Serviço:
O Livro
De 5 de abril a 1º de junho (nos dia 10 e 11/5 não haverá espetáculo); sábados, às 20h e 22h; domingos, às 19h
Cinemateca Brasileira – largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, São Paulo
Quanto: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia)
Informações: 0/xx/11/94278-6973
Classificação indicativa: 12 anos
Lotação: 80 pessoas
Duração: 45 minutos
Classificação indicativa: 12 anos