Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

Esse JOSÉ RENATO nunca precisou (nem quis) usar o black-tie cultural (leia-se marketing) para provar que, em matéria de teatro, a tônica é arregaçar as mangas e ordenar “Ação!”.
Desde que se formou na 1a. Turma do Curso de Interpretação na EAD (Escola de Arte Dramática) de São Paulo, em 1950, José Renato não parou um minuto: quando não estava em Paris como assistente de expoentes do teatro da época, como Jean Vilar e René Clair, ou na Itália, desvendando com Giorgio Sthreller os segredos dos palcos, sua primeira iniciativa (que ficaria como um marco do teatro paulista) foi importar dos Estados Unidos uma nova modalidade de espaço de representação teatral: a arena, com os tensos atores rodeados por uma desconfiada platéia de chiques do velho TBC. Isso aconteceu no Museu de Arte Moderna, exatamente no dia 11 de abril de 1953.
O estranhamento dessa estreia, não intimidou o pragmático encenador, que algumas montagens e um ano depois inaugurava o Teatro de Arena, esse mesmo da rua Teodoro Baima.
Os primeiros anos do novidadeiro Arena foram de respeitável repertório internacional, que incluiu os franceses Marcel Achard e Molière, Pirandello (O Prazer da Honestidade e Não Se Sabe Como), Tennessee Williams (À Margem da Vida), e John Steinbeck, com seu denso Ratos e Homens (consta que, numa noite, chegando atrasada, uma amiga da atriz Riva Mimitz, desconhecendo o espaço cênico, foi direto abraçá-la efusivamente, gafe que só percebeu ao olhar ao redor …).
Porém, à medida que a arena se impunha na cena cultural paulista, José Renato, na dupla função de empresário e diretor artístico, enfrentava as dificuldades financeiras impostas pelo tamanho diminuto da platéia. È bom lembrar que naquela época não existiam essas (suadas) facilidades de hoje em dia, fomentadas pelas leis voltadas à cultura: o empreendedor tinha que assumir todos os riscos por sua conta, para o que desse e viesse.

Foi preciso chegar 1958 e com ele Gianfrancesco Guarnieri com aquela revolução comportamental e da prosódia invadindo eletrizantemente o teatro brasileiro, mais pròpriamente o Teatro de Arena, com Eles Não Usam Black-tie. O sucesso foi estrondoso e José Renato, aliviado, pôde, ao que parece, incluir brioches no seu café da manhã!
O que se seguiu foi um torvelinho de montagens de textos nacionais, nascidos no Seminário de Dramaturgia, com o novato Augusto Boal alternando as direções com José Renato. Mas, ao que parece, o convívio com Boal e sua turma, Guarnieri inclusive, teve interesses artísticos conflitantes e José Renato após uma vigorosa montagem de Os Fuzis da Senhora Carrar, de Brecht, decidiu-se por uma nova, prolífica e bem sucedida carreira solo de empresário-diretor com uma sucessão de comédias de irresistível apelo popular, sem jamais descambar para a chanchada grosseira. Por muito tempo José Renato foi o Rei da Comédia, título que acabamos de inventar para melhor situá-lo como aquele que quer ação acima dos palavrórios infindáveis das assembléias grevistas.
Nosso tímido (e não é que ele é?) operário das artes, nesse tempo todo da sua carreira, escreveu sete peças de teatro, montou outras 70, deu aulas de direção teatral em universidade carioca e foi até presidente da SBAT (Sociedade Brasileira de Autores Teatrais), a agora polêmica sociedade de arrecadação de direitos autorais.
Pesarosos por sua morte, reafirmamos: diferentemente de um talentoso, mas marqueteiro, como por exemplo, Caetano Veloso ou José Celso Martinez Corrêa, José Renato nunca trocou as mangas arregaçadas da camisa pelo black-tie para merecer o brilho das estrelas.