Maurício Mellone, para o site Favo do Mellone, parceiro do Aplauso Brasil(aplausobrasil@aplausobrasil.com)

Monólogo de Marcelo Pedreira, com direção de Roberto Alvim, está no Centro Cultural São Paulo depois de temporada carioca de sucesso
Revelação da nova safra de dramaturgos, o carioca Marcelo Pedreira — que além desse monólogo tem outra peça em cartaz na cidade, Clichê com Lúcio Mauro Filho — não poupa o espectador. Em 45 Minutos, em cartaz no CCSP, sala Jardel Filho, a plateia é provocada pelo personagem, um ator que para se sustentar (mora nos fundos do teatro) é obrigado a entreter o público pelos exatos 45 minutos que dá nome à peça.
Num processo de metalinguagem radical (o público que está na sala do teatro passa a representar a plateia passiva que o ator no palco provoca), o personagem, vivido por Caco Ciocler, confessa sua insatisfação em estar em cena. Diz que como forma de pagamento por suas refeições e local para ficar é obrigado a entreter as pessoas. Sem jeito e cabisbaixo, procura meios para preencher o tempo e o que dizer naquele momento, mesmo lembrando que já havia tido ‘falas’ dos maiores autores da dramaturgia mundial. Nessa hora o ator olha diretamente para o foco de luz, mostrando sua maneira de interpretar os grandes clássicos.
Constrangimento instaurado, o autor, nesse monólogo, quebra o rito do teatro. O ator/personagem pede luz na plateia e incita a todos a darem gargalhadas, ele mesmo ri de forma forçada, numa crítica contundente ao fazer teatral. Outra quebra de paradigma acontece na cena em que o ator tira das costas um revólver e displicentemente atira: as luzes se apagam num final é simulado, tanto que há aplausos. Mas tudo é recomeçado, com o ator colando a arma na cintura de novo. Nesse monólogo, a relação do público e a obra de arte é questionada e Pedreira propõe uma reflexão sobre o significado do teatro hoje na vida cotidiana.
Sempre brinco e digo que Caco Ciocler tem cara de plástico, pois a cada trabalho aparece com o rosto moldado de forma diferente. Dessa vez não foge à regra: para dar vida a esse personagem, ele vem muito bem caracterizado, com cabelo e barba grandes, revelando o desleixo daquele ator perturbado psicologicamente. Por viver esse ator que evita empatia com o espectador, a composição de Ciocler é ainda mais convincente.
Chamou minha atenção as cenas em que o personagem confessa sua angústia. Com que verdade Caco Ciocler diz que sente “náusea do que me repulsa”. Quantas vezes somos obrigados a engolir verdadeiros sapos verdes e temos que nos conformar!
Para concluir, não posso deixar de mencionar o terceiro vértice do triângulo: ao lado de Marcelo Pedreira e Caco Ciocler, 45 Minutos só se sustenta graças a Roberto Alvim, responsável pela precisa direção e impecável iluminação do espetáculo. E no final verdadeiro, outra quebra de expectativa: o público aplaude e Caco Ciocler não volta para os agradecimentos, reafirmando a tese do autor de questionar o rito teatral.
Roteiro: 45 MINUTOS . Texto: Marcelo Pedreira; Direção, cenografia e iluminação: Roberto Alvim. Com: Caco Ciocler. Produção: Marcelo Chaffin; figurino, preparação vocal e corporal: Juliana Galdino; trilha sonora original: F Ribeiro; camareira/contra regra: Cedelir Martinusso; fotografia de cena: Guga Melgar.
Serviço: CCSP, Sala Jardel Filho (324 lugares). (60min, 14 anos). Quinta a sábados, às 21h; domingos, às 20h. Ingressos: R$20,00 – venda de ingressos na bilheteria (terça a domingo, das 10h às 22h), pelo tel. 4003-2050 (Ingresso Rápido) ou pelo site Ingresso Rápido http://ingressorapido.com.br/Local.aspx?ID=1474
Temporada: até 14/8