Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (Michel@aplausobrasil.com)
SÃO PAULO – Adianto aqui que este relato não deve ser lido como uma crítica ao espetáculo Pessoas Perfeitas, de Ivam Cabral e Rodolfo Garcia Vázquez, quem assina a direção, cuja estreia é nesta sexta-feira (15). Assisti a um dos ensaios, embora o espetáculo já esteja pronto e emane os augúrios de delicada e eletrizante produção, revivendo a força de montagens como De Profundis, A Vida na Praça Roosevelt e Inocência, minha trinca favorita.
Os autores e criadores da Companhia de Teatro Os Satyros, Cabral e Vázquez, que, neste ano, celebra 25 anos de existência, criaram personagens baseados em observações de seres que habitam o centro da cidade de São Paulo – o grupo tem a Praça Roosevelt, revitalizada depois de suas ações culturais, como sede, desde o final do ano 2000 – o que está incluso em sua pauta temática há anos.
A boa nova é o acabamento primoroso do texto, assim como o de todos os elementos da encenação (atuações, direção, iluminação, figurinos, cenário, maquilagem, inserção da música como elemento cênico etc.), que coloca Pessoas Perfeitas num patamar geográfico universal, ou seja, a localização da peça se expande (talvez aí esteja o que Os Satyros chamem de “Teatro Expandido”) para qualque centro urbano assolado pela solidão-nossa-de-cada-dia, em que o limite entre ficção e verdade, corroborado por diversas mídias que, ao substituírem nossa imagem real pela idealizada, substituem o contato social pelo virtual.
A peça conta a história de Medalha (Julia Bobrow) é uma jovem que sai do interior do interior para morar no centro de São Paulo, fugindo da solidão depois da morte dos pais. Chegando a capital conhece e começa a namorar Binho (Henrique Mello), que é garoto de programa.
Os pais de Binho, o açougueiro Robalo (Eduardo Chagas) e sua esposa Cacilda (Marta Baião), moram na periferia de São Paulo e perderam o contato com o filho. Robalo, eventualmente, frequenta linhas de disque amizade, onde conhece Sarah (Ivam Cabral).
Sarah é o codinome de Ruy, filho de dona Esperança. Ruy dedica-se diariamente a cuidar da mãe idosa, que tem Alzheimer. Mas na madrugada, altera sua voz e faz contato com pessoas, homens e mulheres, através de linhas de disque amizade.
A irmã de Ruy, Maristela (Adriana Capparelli), teve sonhos de ser uma cantora reconhecida quando jovem. Hoje tem câncer de laringe e está fadada à morte. Trabalha como caixa em uma boate na zona central da cidade. Ainda alimenta uma paixão doentia, há mais de 20 anos, por Elder (Fábio Penna), um escritor decadente que vive pelas madrugadas declamando seus poemas e vivendo à base de cocaína e uísque.
Pessoas Perfeitas carrega um ineditismo: será a primeira peça da companhia a ser produzida já com a perspectiva de se transformar em filme. Hipóteses para o Amor e a Verdade, de 2009, outro projeto do grupo, acaba de ser finalizado como longa metragem e já está sendo inscrito em festivais de cinema nacionais e internacionais.
No caso de Pessoas Perfeitas, o espetáculo já está sendo adaptado para o cinema, e será rodado em janeiro do próximo ano.
Serviço
Pessoas Perfeitas
Direção: Rodolfo García Vázquez
Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Elenco: Ivam Cabral, Fábio Penna, Henrique Mello, Julia Bobrow, Eduardo Chagas, Marta Baião e Adriana Capparelli / Participação das violoncelistas Alessandra Giovannoli e Rebeca Friedmann
Iluminação: Flávio Duarte e Rodolfo García Vázquez
Sonoplastia: Henrique Mello
Cenografia: Marcelo Maffei
Figurinos: Sonia Ushiyama
Fotos: André Stéfano
Classificação: Recomendado para maiores de 16 anos
Duração: 80 minutos
Quando: Quinta a domingo, 21h
Quanto: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia-entrada) e R$ 5 (moradores da Praça Roosevelt)
Local: Espaço dos Satyros Um (Praça Roosevelt, 214, Consolação – Tel. 11 3258 6345)
Estreia: 15 de agosto
Temporada: até 14 de setembro