Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Com a estreia de Ricardo III, na última quinta-feira, no Teatro João Caetano, deu-se o passo inaugural para a concretização do SHAKESPEARE – Projeto 39, no qual estão previstas as montagens de todas as peças do bardo inglês.
Marcelo Lazzaratto assina a direção de Ricardo III, peça que coloca no centro da cena os bastidores da desmesurada ambição e suas ardilosas práticas para conquistar e preservar o poder.

Chico Carvalho dá vida à Ricardo, irmão de Eduardo IV, que trama empreende um cruel plano para obter a soberania. Em seu caminho repleto de conchavos, complôs e perversidades, das quais nem os próprios familiares são poupados, Ricardo conquista aliados, tão ambiciosos quanto ele, nessa obsessiva busca pelo poder.
Em entrevista exclusiva ao Aplauso Brasil, o diretor Marcelo Lazzaratto fala sobre Ricardo III, sobre seu trabalho na montagem, sobre seus futuros empreendimentos, entre outros assuntos.

Aplauso Brasil – É sua segunda encenação dentro do SHAKESPEARE – Projeto 39, além da excelente imersão que o Elevador Panorâmico (grupo do qual é diretor e um dos fundadores) empreendeu sobre Shakespeare. Quais os aspectos pertencentes ao bardo inglês que invoca a unidade do dramaturgo e, ao mesmo tempo, indica a pluralidade de sua dramaturgia?
Marcelo Lazzaratto – Na verdade é a primeira do SHAKESPEARE – Projeto 39. A Tempestade é anterior (embora seja dos mesmos produtores). Futuramente teremos outra encenação d’ A Tempestade no Projeto. Acredito que o que dá unidade ao traço shakespeariano é a profunda compreensão de que o mundo é um palco e de que tudo que acontece no palco é vida. ou seja, mais do que um espelho, ele nos oferece com suas tramas, realidades vívidas, repletas de matizes, contradições e encantamentos. Em relação à pluralidade: acredito que Shakespeare criou tramas e enredos que contemplam todos os temas que dizem respeito intrinsicamente a espécie humana, assim como outros grandes autores clássicos como Tolstói, Goethe e Machado de Assis. o que o diferencia, e ai ele se torna verdadeiramente plural, é sua capacidade de conceber uma gama incrível de personagens com caráter próprios e profunda inserção e poder de ação nas circunstâncias por ele criadas. Não sabemos quem é ou foi Shakespeare, nunca reconhecemos a sua voz, por que ele é polifônico, todos os personagens juntos talvez sintetizasem a sua “voz”.
AB – Ricardo III é uma tragédia que expõe os mecanismos da máquina do poder. Como é seu tratamento de encenador para evidenciar que, mesmo em países e épocas distintas, há menos mistério do que sonhamos?
ML – Escrevi isso no programa da peça e acho que responde sua pergunta:
Assim, Ricardo III, de William Shakespeare, vem a publico na cidade de São Paulo, no Brasil, em 2013, para mostrar o jogo político e as tramas engendradas nos bastidores, servindo de espelho ao que aqui acontece nos corredores do congresso, nas imbricadas linhas da telefonia celular, nas redes dos conglomerados financeiros, etc.
Tudo aquilo que se planeja às escondidas, pelas costas, nos meandros, nos cantos e nos clubes, movido pela ambição e pela cobiça, nossa montagem faz a opção de revelar, deixar às claras, tornar público.
Colocam-se francamente e perante todos, do mesmo modo, as dores e as angústias de personagens que perderam parentes, pais, filhos e irmãos, nessa luta desenfreada pelo poder. Nada é escamoteado. Nada escondido. Nada dissimulado.
Com esses objetivos foi concebida essa encenação. Ricardo III acontece sobre uma arena rompendo a quarta parede do palco italiano. A arena, espaço político por excelência, se debruçando sobre a plateia comodamente assentada nas poltronas do teatro. O espaço inteiro do edifício teatral, palco e plateia, iluminados e interligados. Esta linha de tensão sobre os espectadores reforça o objetivo da montagem que pretende expor, sem duvidas e meios tons, o descaramento do jogo político contemporâneo.
Esse Ricardo III age às claras. A arena pública é o seu tablado. Ali se faz ator de muitas caras, muitos estilos. Caracteriza-se e neutraliza a expressão por conveniência. Embora traga em si inequivocamente a marca da maldade, como um camaleão a transforma em atração.
AB – Qual o papel dos atores na encenação?
ML – Os atores são fundamentais em minhas encenações da obra de Shakespeare. Carrego comigo o profundo entendimento que Shakespeare se faz com um tablado, atores e muita imaginação, tanto para quem faz quanto para quem assiste. Como estamos falando de vida, Shakespeare é puro acontecimento e no teatro os acontecimentos se dão nos e através dos atores.
AB – Como foi o trabalho com eles para que chegassem a ser os protagonistas da encenação?
ML – Entendimento de texto é o mais básico e o mais difícil, o que é indispensável, necessário. E que inclui entendimento das circunstancias, das imagens, dos tons, das atmosferas, das relações, e dos vetores espaciais propostos por mim sobre o tablado. O que eles tem nessa montagem como alicerce são “apenas” o texto e os vetores.
AB – Quais seus próximos empreendimentos?
ML – Estou preparando com a minha cia., a Cia Elevador, para o inicio do ano que vem, O Jardim das Cerejeiras, de Tchekhov.
FICHA TÉCNICA DE RICARDO III
Elenco:
Chico Carvalho…………….Ricardo III
Mayara Magri……………..Rainha Elizabeth
André Corrêa………………Clarence/Prefeito/ Cidadão
Evas Carretero…………….Brakenburry/Catesby
Fernando Nitsch………….Hastings/Tyrrel
Heitor Goldflus…………….Rei Eduardo IV/ Bispo/ Cidadão
Imara Reis………………….Duquesa de York
Isis Valente…………………Madame Shore
Marcelo Moraes………….Assassino 2/ Grey
Marcos Suchara………….Buckingham
Maria Laura Nogueira….Lady Anne/Cidadão
Mario Luiz………………….Assassino 1/Stanley/Cidadão
Rafael Losso……………….Richmond/ Rivers
Renata Zhaneta………….Margareth/Cidadão
De: William Shakespeare
Tradução/Adaptação: Jorge Louraço
Direção Geral: Marcelo Lazzaratto
Assistência de Direção: Wallyson Mota
Direção de Produção: Alexandre Brazil e Erike Busoni
Produção Associada: Christiane Tricerri
Assistência de Produção: Daniele Cardoso
Direção Musical: Daniel Maia
Cenografia: Kleber Montanheiro
Iluminação: Wagner Freire
Figurino: Marichilene Artisevskis
Camareira: Isis Valente
Contrarregra: Sergio Sasso
Design do site: Fernando Valini
Realização: SE4 Produções, Escritório das Artes e Cia da Matilde
TEMPORADA
Estreia: Quinta-feira, 24 de outubro de 2013, às 21h.
Local: Teatro João Caetano (Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino – próximo à estação Santa Cruz do Metrô). Informações pelos telefones 11- 5573-3774 e (11) 2668-4007.
Horários: Quintas, sextas e sábados, às 21h; domingos, às 19h.
Preços: R$ 20,00 – R$ 10,00 (meia-entrada).
Clientes Vivo Valoriza têm 50% de desconto em até 2 ingressos mediante voucher impresso no site.
Temporada: até 24 de novembro de 2013.
Lotação: 438 lugares.
Duração: 120 minutos.
Classificação Etária: 12 anos.
Serviço de venda de Ingressos: Bilheteria do teatro (01 hora antes do início do espetáculo). Aceita dinheiro, cheque e cartão de crédito.
Estacionamento: Não possui.
Acesso parcial para deficientes / Ar Condicionado
Promoção: Rede Globo e Alpha FM.
Apoio Institucional:
› Ministério da Cultura, Lei Federal de Incentivo à Cultura – Rouanet e Governo Federal – país rico é país sem pobreza.
› PROAC – Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo.
› “Este projeto foi contemplado pelo PRÊMIO FUNARTE DE TEATRO MYRIAM MUNIZ/2013”.
› “Projeto apoiado pelo Governo de São Paulo, Secretaria de Estado da Cultura, Programa de Ação Cultural 2011/2012”.