Michel Fernandes, especial para o Último Segundo (michel@aplausobrasil.com)

A terceira edição do Festival de Teatro Ibero-Americano promovido pelo Memorial da América Latina encerrou no último domingo com uma adesão impressionante do público e um desejo otimista e franco para a edição de 2011.
Os espetáculos escolhidos para o encerramento desse 3º Festibero ressoaram com gargalhadas de pleno divertimento de espectadores que puderam assistir, de graça, a espetáculos brasileiros, latino-americanos, portugueses e espanhóis aos quais, dificilmente, teriam acesso.
Com planos de uma mostra paralela à oficial, como o Fringe irlandês, e reconhecendo que, realmente, da primeira à presente edição do Festibero, a maturidade de quem se dá “ao luxo de experimentar”, segundo Fernando Calvozo, diretor de atividades culturais do Memorial da América Latina e idealizador do Festibero que fala mais sobre as diferenças dessa terceira edição, sobre os planos e projetos para 2011, entre outros assuntos.
Michel Fernandes – Como surgiu a ideia de um festival ibero-americano?
Fernando Calvozo – Da experiência com Portugal, em que realizei, durante seis anos, um intercâmbio entre minha companhia (a Companhia Paulista de Repertório) e Festival Fazendo a Festa, na cidade do Porto. Lá que nasceu nosso Festibero, conversando com o Zé Leitão, da Companhia Arte Imagem, a ideia de fazer um intercâmbio com Portugal e Espanha.
MF – Esta é a terceira edição. O que muda estruturalmente da primeira edição pra esta edição?
FC – Vejo o festival mais maduro neste ano, a primeira edição era muito crua. Eu sinto que a primeira edição realmente foi bastante fraca, porque foi aquela em que a gente se deu ao luxo de experimentar. No segundo ano, ano passado, a gente já tentou dar um segundo passo, mas a gente não tinha dinheiro para fazer, foi um festival muito sacrificado. E este ano a gente já pensou muito mais, a gente já pôde assistir a essas peças no decorrer do ano, a gente pôde negociar as companhias que viriam do estrangeiro, exceto a companhia portuguesa que nós estávamos trazendo, a companhia do Fernando Sena, que acabou falhando e você acabou nos ajudando, indicando a peça do Kind of Black Box (Lost in Space) , que pra nós foi uma grata surpresa, um material super interessante, uma comedia que agradou muito. Nos sentimos mais experimentados e com mais força pra fazer o quarto no ano que vem, sem medo de ser feliz (risos).
MF – Esses dias de Festibero contaram com as salas do Memorial lotadas. Há maior aderência do público?
FC – Sinto que há.
MF – Muitos dos espectadores aqui presentes, geralmente, não tem acesso ao teatro, até porque o valor do ingresso é um pouco alto.Há uma preocupação, também, em trazer alguma coisa mais interessante para esse publico que não tem o costume de ir ao teatro?
FC – A gente não se preocupa muito com escola teatral ou com tendência cênica dentro do festival. Alguém perguntou pra mim, uma repórter perguntou pra mim: Ah! Mas qual a tendência desse festival? Não tem tendência! O que esse festival procura trazer é a possibilidade do intercâmbio, qualquer que seja ela, é entregar aqui em São Paulo a possibilidade do publico vir. E a gente não pode trazer só a peça do papo-cabeça, senão a gente vai ter a casa vazia, nada muito elaborado, muito rebuscado. Procuramos trazer coisas mais leves. É claro que a Espanha quando nos ajuda, se preocupa em trazer uma montagem mais elaborada, e a gente presa, a gente quer isso também, mas a gente tem que se preocupar em não trazer uma coisa muito homogênea, tem que ser tudo muito diferente mesmo, porque todos os gostos tem que se satisfazerem e todo mundo tem que ter direito a assistir alguma coisa que vai gostar. Eu concordo, eu ouvi um comentário hoje lá dentro do teatro dizendo assim: Pô! Ontem aquelas Troianas (As Troianas – Vozes Dissonantes) falam tudo em alemão. Ah! Eu não entendia nada do que eles falavam, mas eu entendi a peça. A ideia era aquilo, você não precisava entender o alemão para ver a peça. Toda a força do idioma tentando mostrar o julgo do alemão sobre as troianas, aquele drama trazido desde Eurípedes para a época do nazismo. Então funcionou como eles queriam que funcionasse, deu certo.
MF – Isso, também, tem a ver com a modificação da banca de curadores?
FC – Exato. No primeiro ano foi só a professora Neyde Veneziano, trazendo todas as peças nacionais, ela quem assistiu e convidou todas, além de ter a ajuda da Glória Levi pra trazer as peças do cone sul e do México, Argentina, Uruguai e Bolívia. No segundo ano, a gente já trouxe a Elvira Gentil, que nos ajudou e continuamos tendo a ajuda da Gloria Levi e do Valter Malta, que é um produtor e participante desses encontros latino americanos da área teatral, ele nos ajudou muito também. Eu acho que a presença dele junto com a da Glória acabou arejando um pouco mais o festival. E esse ano com a vinda do Lima Duarte e do Paulo Betti, Elvira e eles chegaram a conclusão de que tinha que ser mesmo um painel meio miscelânea.
MF – E agora tem uma mudança no governo. Corre algum risco de não existir mais esse festival?
FC – Espero que não, porque eu sou um idealista com relação a isso. Eu acredito no festival, eu sou um cara que gosto de artes em geral, sou artista plástico…