João Manuel Mota*, para o Aplauso Brasil (aplauso@gmail.com)

CURITIBA – Duas montagens do texto The Pillowman do autor inglês Martin McDonagh (A Rainha da Beleza de Leenane) integram a programação da Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba nesse ano. Uma delas é a paulistana The Pillowman – O Homem Travesseiro, dirigida por Bruno Guida e Dagoberto Feliz. Eles apostam na estética do grotesco para aprofundar a relação entre a comédia e a violência presentes no texto.
Cinco atores assumem estados bufonescos e encenam a história de um escritor cujos contos de conteúdo violento começam, aparentemente, a inspirar uma serie de homicídios infantis na cidade em que ele mora. “Pode um artista ser culpado pelos sentimentos que seu trabalho provoca?”, é apenas uma das questões que, segundo a sinopse, ficam abertas nessa comédia de humor negro.
Na coletiva de imprensa realizada na manha dessa terça-feira (02), o diretor e ator Bruno Guida contou que o texto é escrito originalmente para sete atores, incluindo duas atrizes, mas nessa montagem eles optaram por fazer tudo com cinco atores.

“O texto tem um humor inglês muito ácido, em que violência e comédia se tocam. Assim fizemos oficina de bufão para encontrar essa relação e no processo decidimos por manter as deformidades que os exercícios provocavam. Assim, um grupo de bufões pode contar essa história com cinco atores”, revelou Guida. Ele também está em cena como ator.
No processo de construção os atores passaram, além da oficina de bufão, por oficinas de contação de histórias, exercícios de mascaras e de clown. O diretor Dagoberto Feliz explicou que o trabalho com o fator épico, estar presente e ao mesmo tempo narrar a história, o estado grotesco do bufão e o viés lírico do clown se mesclaram na composição das personagens.
“É impressionante como essa peça pode provocar reações distintas nas pessoas”, comentou Dagoberto sobre a variedade de leituras que o texto e a montagem suscitam na plateia.
Duas versões

Durante a coletiva de imprensa, a pergunta inevitável que os diretores paulistas tiveram que responder foi sobre a opção (ou será provocação?) da curadoria em escolher duas montagens do mesmo texto para integrar a programação.
Tanto Bruno Guida , como Dagoberto Feliz, trataram o assunto com bom humor. Feliz havia assistido no dia anterior a montagem carioca O Homem Travesseiro, dirigida por Bruce Gomlevsky, e disse estar impressionado com a força que o texto contem.
“Mesmo em uma montagem bem diferente da que fazemos, o público se prende do início ao fim”, comentou Feliz, acrescentando que isso fica mais difícil por se tratar de um texto longo.
Uma possível diferença apontada por Guida e Feliz foi a opção que eles fizeram de não respeitar as indicações do autor sobre as cenas, além das traduções. O texto da montagem paulista é uma tradução do próprio Bruno Guida. Já a peça carioca foi traduzida por Ricardo Ventura, que também atua na montagem.
Em cartaz
The Pillowman – O Homem travesseiro (SP) faz em Curitiba sua primeira apresentação fora da capital paulista. A peça ocupará o palco do Teatro Guairinha nessa terça e quarta-feira (02 e 03), às 21h. A partir de junho, a peça entra em cartaz no CIT-Ecum, em São Paulo.
Já O Homem Travesseiro (RJ) faz nessa terça-feira (02) a última apresentação em Curitiba, no Teatro Bom Jesus, às 21h.
*João Manuel Mota está à convite do Festival de Teatro de Curitiba