
Michel Fernandes*, especial para o Último Segundo (Michel@aplausobrasil.com)
Um dos espetáculos que certamente deixará marca indiscutível no Festival de Curitiba será In on It, texto do canadense Daniel Macivor, até então inédito no Brasil, dirigido por Enrique Diaz.
Entre os inúmeros predicados que o espetáculo condensa, destaca-se o jogo que vai da dramaturgia à direção. Conforme aponta Diaz, “o autor tem muito precisão na matemática estrutural do espetáculo” e o diretor , juntamente com o talento dos atores Emílio de Melo e Fernando Eiras, contribuem na execução das camadas que fazem do espetáculo um sedutor mosaico que depende da percepção do público para sua realização.
As camadas apresentadas no espetáculo – presente, ficção metateatral e memória – são explicitadas com um recurso ao mesmo tempo singelo e genial, em que mudanças de iluminação e o brilhante desempenho dos atores comuniquem claramente em qual dos planos se passa determinafo trecho encenado.
Prefiro dizer bem pouco sobre a trama da peça. Acredito que sua estrutura deixa diversas portas abertas para que cada espectador se intere e crie todos os sentidos para o enredo, ou seja, a “historinha”. No passado, descobrimos como se desenrolou a história de amor, do primeiro contato aos problemas cotidianos da relação, e o presente, em que Brian (Fernando Eiras, indicado ao Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro, 2009, pelo desempenho) -decide escrever uma peça sobre um médico que descobre ter um problema terminal de saúde e provoca um acidente com seu Mercedes azul com o propósito de se matar.
O companheiro de Brian é Brad (Emílio de Mello), mas, apesar de ser um casal gay, o foco do espetáculo passa distante de discussões sobre a sexualidade.
“Não é uma peça gay. O fato de ser uma relação entre dois homens não é o tema, se fosse uma relação entre um homem e uma mulher seria a mesma coisa. In On It é sobre o amor, sobre a perda…”, pontua Diaz.
Diretor da Companhia dos Atores, grupo carioca cujo trabalho é dos mais destacáveis da cena nacional, a ideia de montar a peça começou sua gestação quando ele assistiu a montagem nova-iorquina em 2001. Anos depois, quando apresentava Ensaio.Hamlet (uma de suas excepcionais encenações), no Under The Radar Festival, festival em que Daniel MacIvor se apresentou no ano seguinte. Conseguiu o patrocínio da Oi, que patrocinou o monólogo A Paixão Segundo G.H. (dirigido por ele e interpretado por Mariana Lima), e produziu o espetáculo que foi montado em apenas seis semanas com o foco no jogo entre ator e texto.
“Eu tive muito pouco tempo pra ensaiar e vim de trabalhos muito complexos, muito criativos, onde eu tive uma função junto com os atores de uma desconstrução radical de texto (Ensaio.Hamlet e Gaivota – Tema Para um Conto Curto). Então eu estranhei não ter espaço nem tempo pra fazer isso. Eu percebi que meu negocio era com o texto e com os atores, adiantava inventar. E como é bom fazer esse exercício, como é bom reconhecer o quanto esse texto é bom, como ele não precisa que a gente invente coisas e que a gente tem muito o que fazer dentro dele”, completa.
Ficha Técnica
Texto: Daniel MacIvor
Tradução: Daniele Ávila
Direção: Enrique Diaz
Elenco: Emilio de Mello e Fernando Eiras
Iluminação: Maneco Quinderé
Cenografia: Domingos de Alcântara
Figurino: Luciana Cardoso
Trilha Sonora: Lucas Marcier
Direção de Cena: Marcos Lesqueves
Produção Executiva SP: Roberta Koyama
Direção de Produção RJ: Rossine A. Freitas
Direção de Produção SP: Henrique Mariano
Produção: Enrique Diaz
*Michel Fernandes viajou a convite do Festival de Curitiba