Edson Junior, especial para o Aplauso Brasil (edson@aplausobrasil.com)

A sonoridade autoral e a sofisticação poética de Felipi Catto couberam confortavelmente no Tom Jazz, em noite emocionada e calorosa. O palco da charmosa casa de espetáculos de Higienópolis estabeleceu uma atmosfera intimista necessária para que o intérprete, visceral e intenso, espalhasse criatividade, talento e técnica vocal. A única apresentação do seu Mundo Novo Antigo, atual espetáculo do jovem porto-alegrense, é um olhar caleidoscópico sobre o amor e todas as suas possibilidades.
Filipe caminha sobre as canções como um trapezista, sem rede de proteção. Redoma, a canção que abre o espetáculo, é capaz de sintetizar e dar direção ao show que opta pelo caminho do amor rasgado, passional, trágico e da graça que há em tudo isso, pois os sambas compostos pelo rapaz conseguem ser alegres com toques ácidos de ironia e sinceridade.
É possível perceber a influência de grandes cantores na formação deste artista: a grande dama da canção americana, Billie Holiday, reverenciada e homenageada com Gardênia Branca no Cabelo Dela.
Inspirado na leitura de sua biografia, a letra revela seu olhar sobre a diva e nos remete ao universo de cantores da era de ouro do rádio, onde se ouvia emissões potentes de intérpretes que cantavam, de maneira teatral, o amor e o desamor.
E aí está o ponto onde essas duas linhas se encontram, o antigo e o novo, na teatralidade latente do jovem Filipe, nas faíscas

que saíram do palco e na dramatização sem deslizar para o caricato ou pesar a mão como na interpretação precisa da belíssima Teu Quarto.
Filipe não é só influenciado pelo rádio, o falso brilhante que trouxe nos dedos, nos faz perceber que a eterna Elis Regina, morta há exatos 29 anos, também imprime sua marca tanto pela interpretação pungente quanto pela extensão vocal, o contratenor, traz lirismo ao cancioneiro popular e revela a humanidade presente em todos nós quando o assunto é amar.
O público paulistano ainda pode assistir Filipe Catto, dia 04 de fevereiro no SESC Pompéia, sem dúvida, imperdível!