Luís Francisco Wasilewski, especial para o Aplauso Brasil (lfw@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Há poucos dias assistindo ao ótimo espetáculo Cartas de Amor-Eletropoprockoperamusical, eu lembrei de Rodolfo Bottino que faleceu no último dia 11. Explico a associação: Cartas de Amor em seu final oferece ao espectador um delicioso prato oferecido pela atriz Dedina Bernardelli. E isso me fez lembrar Rodolfo que, na década de 1990, começou a criar espetáculos que juntavam teatro e gastronomia.
Acho a trajetória de Rodolfo uma das mais singulares que conheci. Ele surgiu nos anos 1980 como o jovem e lindo galã de novelas como Ti Ti Ti e séries como Anos Dourados. Em 1993 lembro-me de ter rido muito com o seu talento cômico interpretando o faxineiro Nilson (que não sabia “qual era o masculino de ovelha?”) na excelente peça de Miguel Falabella No Coração do Brasil
Depois, Rodolfo passou a se dedicar com mais ênfase ao seu talento gastronômico. Teve um programa de sucesso o Gema Brasil, onde entrevistava uma personalidade, enquanto preparava uma comida. Data desta época o seu espetáculo que unia teatro com gastronomia, uma criação dos seus amigos Luis Salém e Stella Miranda.
Em 2009, em uma atitude bastante corajosa, tornou pública a sua soropositividade do HIV. Desde então, manteve uma carreira profícua atuando em peças como Medida por Medida e filmes como O Homem do Futuro.

Em Fevereiro deste ano passei uma divertida noite com ele e Luís Salém na Lapa carioca. Salém foi seu grande amigo, o ajudou e esteve ao seu lado até o fim, e isso precisa ser dito e lembrado. Naquela noite, Rodolfo me falou que queria montar o monólogo Aspargos Uruguaios em Oferta, de Vera Karam, quem, por estas artimanhas do destino, foi minha professora de criação literária quando eu era adolescente. Infelizmente, Rodolfo não conseguiu concretizar o projeto. Mas até perto da morte manteve a sua postura lutadora diante da doença. E isto também deve ser lembrado.