Edson Júnior, especial para o Aplauso Brasil (Edson@aplausobrasil.com)
SÃO PAULO – Maria Bethânia homenageou na noite de ontem um de seus letristas prediletos: Chico Buarque de Holanda em um projeto especial , o Circuito Cultural Banco do Brasil, na casa de espetáculos Via Funchal.
A cantora que nos anos 1980 se intitulou como a melhor interprete de Buarque – e teve sua afirmação corroborada pelo compositor -, trouxe à cena um recorte da obra entre os anos 1960 e 1980 que povoou e ampliou o universo das artes em nosso país.
Sim, pois a criação de Chico vai além da música e ocupa o cinema, ballet e teatro , como bem lembrado através de um fragmento da peça Gota D’Água , em que Bethânia vive Joana, a vingativa Medeia tropical, e emenda, ferida, a canção que dá título à peça de 1974.
De Calabar- o elogio da traição (1973), escrito em parceria com Ruy Guerra, Bethânia interpretou Não existe pecado ao sul do equador, Tire as mãos de mim, Cala a Boca Bárbara, Tatuagem. Do símbolo de resistência contra a ditadura escrito em 1967, Roda Viva, estiveram no repertório Sem Fantasia e a canção que dá título ao espetáculo.
Em 1974, intérprete e compositor estiveram juntos no palco do Canecão, no espetáculo Chico Buarque e Maria Bethânia (registrado pela gravadora Philips no ano seguinte). Deste show, Olê, Olá, Quem te viu, quem te vê, Noite dos Mascarados, foram inclusos e renderam os melhores momentos da apresentação marcada por saudosismo e pelo resgate histórico de clássicos do cancioneiro popular.
Bethânia compôs um repertório para além da criação individual, destacando os principais parceiros, como Ruy Guerra em Sonho impossível (versão de Impossible Dream) e Vinicius de Moraes em Gente Humilde, que pareceu tão triste e solitária, numa interpretação- lamento, de uma realidade social ainda desigual e pouco diferente desde sempre.

Ouvir Buarque na voz de Bethânia é eternizar canções e ser tocado tanto na inteligência quanto no coração por criações sofisticadas e que tratam do viver em todas as suas possibilidades e maneiras, quem dera o projeto pudesse seguir carreira ou eternizar –se em CD, uma pedida contra rasa produção fonográfica do que temos ouvido hoje.
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