Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Uma discussão que tive no facebook à respeito da redução da maioridade penal – da qual acenei ser favorável – me levou a um insight que desemboca nesta crítica. Foi-me dito que defender a tese acima causava, ao redator do tal comentário, a impressão de que eu nada havia absorvido do teatro. Fiquei possesso com a crítica à mim – isso é natural – mas o fato de eu ser criticado me fez parar e refletir: quando pensei em falha judicial, a que os menores penalizados podem estar sujeitos, me veio à memória Oleanna, de David Mamet, dirigida por Gustavo Paso, em que o embate entre mal-entendidos de uma linguagem imprecisa leva à interpretações distorcidas, evidenciando a falibilidade da justiça.

Na precisa, delicada e sutil direção de Paso, os mínimos detalhes entre uma conversa entre professor e aluno se revela celeiro de inúmeros mal-entendidos, interpretações do que se diz que façam sentido a apenas uma das partes, ou como em Oleanna podemos interpretar, uma dose de malícia da aluna que, em sua sagacidade maquiada de fragilidade e simplicidade, arma a arapuca para que o professor aja de forma ambígua e ela possa processá-lo.
Essas inversões de posição, limites da justiça, falhas e interpretações dos fatos indefiníveis ou propositalmente indefinidos, fazendo da “verdade” uma quimera, abstrata e inalcançável. E para atingir essa camada sutil e movediça, com naturalidade e precisão cirúrgica, é preciso o talento ímpar de Marcos Breda e Luciana Fávero.
Sim, o teatro, quando bem-feito, é capaz de provocar mudanças e, considerando as inúmeras injustiças cometidas pelo nosso sistema judiciário, me declaro CONTRA a redução da maioridade penal.
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