Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michelfernandes@superig.com.br)

A décima quinta edição da Parada do Orgulho LGBT, ou simplesmente a Parada Gay de São Paulo, um evento que reúne milhares de pessoas vindas de todas as regiões brasileiras, além de um público internacional que cresce a cada ano, começa logo mais e o momento festivo é bastante adequado para olharmos para trás e descobrir que o Movimento Gay já tem história para contar. Uma história marcada pela perene resistência. Mesmo hoje, quando a compreensão da diversidade parece maior, não são poucos os casos em que a agressão aos homossexuais persiste. Por isso o tema desse ano é “Amai-vos Uns Aos Outros: Basta de Homofobia”.
Pensando em instrumentalizar-se para que nossa resistência tenha mais força, a leitura de alguns livros parece bastante oportuna.

A proposta de reunir textos de diferentes fontes como cartas, relatórios clínicos, matérias jornalísticas, entre outros documentos não formais, é o fio condutor da série Baú de Histórias, da editora José Olympio. Em “Frescos Trópicos”, organizado por James N. Green e Ronald Polito, textos reveladores sobre como a homossexualidade era encarada no Brasil entre 1870-1980 é o tema do pequeno livro que, por ser de fácil e deliciosa leitura (e num formato que se pode carregar no bolso do casaco).
Subdividido em quatro tópicos, em “Frescos Trópicos” temos um breve panorama de como as questões da homossexualidade evoluíram no Brasil desde o império, no final o século 19. Por exemplo, ser homossexual no império – no final do século 19 (1870) – era caso de polícia, com previsão penal e tudo o mais.
Na segunda parte de “Frescos Trópicos”, os escritos presentes evidenciam o caráter marginal que a medicina, o direito e a moral cristã reservavam à homossexualidade.

Na Constituição de 1940, por exemplo, fala-se em “reprimir atos libidinosos praticados por homossexuais”, mas não se especifica quais seriam esses atos, o que deixava uma perigosa brecha para interpretações da lei que serviam à estrutura preconceituosa de nossa sociedade, desde sempre, machista.
A medicina incorria num erro que, hoje, os próprios homossexuais cometem, fazendo o serviço de segregação das atividades sexuais, estereotipando-as, ou seja, subdividindo os gays masculinos em passivos, ativos e mistos, bem como os comportamentos que valem à dedução dos tipos. Mas será que essa atitude behaviorista pode ser aplicada ao desejo humano que é tão tênue e passível de mudanças? O livro traz relatos sobre os movimentos de liberação sexual no Brasil, impulsionado pelo Gay Power norte-americano, também fala do fundamental papel da imprensa na difusão de informações relativas ao universo gay, cuja característica principal era um tratamento não-estereotipado dos homossexuais. Dois dos destaques deste trecho são a revista Snob, a primeira dirigida ao público homossexual, a “Coluna do Meio”, em que Celso Curi escrevia um texto no jornal Última Hora especificamente para o público homossexual e o jornal Lampião da Escuridão, importante veículo para que os homossexuais saíssem do gueto.

Em ”Além do Carnaval”, também do historiador norte-americano James N. Green, tais questões ganham maior verticalidade servindo ao leitor ávido por informações em maior profundidade. O livro “Devassos no Paraíso”, de João Silvério Trevisan, também é recomendável para quer saber mais sobre a História da homossexualidade no Brasil.