Michel Fernandes é colaborador especial do Projeto Ademar Guerra (michel@aplausobrasil.com)

GARÇA (SP) – Dois dos espetáculos apresentados na Mostra de Teatro Ademar Guerra, Memírias De Sant’Anna e Atos de Rua, tiveram como protagonista do tema a que se propõem trabalhar um mergulho em suas raízes mais profundas para dali extrair a seiva que alimenta sua identidade cultural. O espetáculo de São José dos Campos, Memórias de Sant’ Anna, abriu a Mostra e evocou histórias, cânticos, ritos, entre outros, sobre Sant’ Anna, bairro culturalmente fértil do Vale do Paraíba.
O Mestre Fernando Pessoa nos aconselha a falar sobre nossa própria aldeia para, assim, falar sobre todo o universo, que parece ser conselho seguido pela Cia. Cultural Velhus Novatos que derrapa nos sedutores, e por isso mesmo perigosos, efeitos plásticos – cenografia, adereços, iluminação, belcanto etc. – tornando redundante o que poderia ser simplificado.
Redundar pode desviar o foco e o espectador se preocupar com o que não teria a múnima importância e negligenciar o que seria imprescindível de se ver. Quando o polonês Jerzy Grotowski equipara a função do diretor como “espectador de profissão”, quer dizer que entende como uma das funções do diretor ajudar o espectador na condução do que se vê em cena e em Memórias de Sant’ Anna o excesso de informações desnorteia tanto o público que se cansa com o novelo imenso de informações que não se conectam e, também, os artistas que negligenciam aspectos básicos como a dicção e a lida com os instrumentos musicais, entre outros detalhes.
Contudo, discordo – em absoluto – com o que disse um espectador durante o debate que ocorre logo após a apresentação, prática comum no projeto: o que é dito pelos profissionais convidados a debater – Alexandre Dal Farra, Cláudio Mendel e Sonia Azevedo, mediados pot Sérgio Ferrara, curador artístico do Projeto Ademar Guerra – não é para deixar o artista “desanimado”, conforme foi dito, mas são orientações com objetivo pedagógico, estabelecer um diálogo entre o que o projeto do grupo propõe e que, de fato, ele comunica.
Quando Athos não comunica
O que move um espectador a cruzar a porta de sua casa, assistir a uma representação e sentir que valeua pena o mínimo gesto que fez? Alguns podem defender a hipótese de que buscam na obra algo reflexivo, que vá além do mero prazer, outros procuram apenas por diversão instantânea. Contudo o ato teatral só se concretiza quando se estabelece comunicação, seja lógica ou sensorial e Atos de Rua, do Grupo Teatral Athos (Batatais), embora tenha apresentado apenas um curto fragmento de sua pesquisa, não atinge a comunicação lógica – segundo o material de divulgação o objeto é presentificar a história da fundação de Batais, por meio de documentos oficiais ou não, e sobre a saga dos bandeirantes; no que diz respeito à sensibilização, o fragmento está confuso para capturar o espectador.
Há alguns apontamentos a indicar algo de interessante quanto à forma com que desenvolvem o trabalho, resta dar algo de sólido em relação ao desenvolvimento temático para que a trupe avance os umbrais da confusão.